quinta-feira, 8 de julho de 2010

As vezes escrevo coisas muito deprimentes...

Sabe quando você acorda de manhã, senta na cama e põe o pé no chão?

Então eu já não tinha esse chão. Era um grande vazio, que eu já não sabia como preencher.

Era como estar no limbo. Não havia chão, não havia ar. Não havia vozes, nem cores, nem luz. Não havia nada.

Eu não sabia se estava morto ou morrendo. Só sabia que não queria mais viver. Não queria respirar, não queria pensar...

No limbo, não sei se estou dormindo ou acordado. Só sei que não faz diferença, eu não tenho sonhos ou fantasias para onde fugir...

Já faz uma semana e três dias desde o acidente. Sim, eu estou contando.

Ainda vejo as ferragens se contorcendo, o pára-brisa se espatifando e a expressão de pavor dele enquanto me manda sair do carro. O cheiro forte da gasolina vazando. Minha perna sangrando e doendo, meu rosto cortado, meu corpo latejando. E ele me mandando sair, ele com as pernas imprensadas na lataria, a boca coberta de sangue e gritando para que eu saísse. Eu não queria sair, não queria deixá-lo, eu não podia, mas ele insistia e dizia para que eu saísse. Me esgueirei pela porta parcialmente aberta, o asfalto quente sob o meu peso. Obedeci aos novos gritos dele, e me afastei do que outrora fora um carro, agora um monte de metal retorcido pegando fogo. Fogo. Explosão. Grito. E silêncio.

Fazia uma semana e três dias que eu não tinha mais ele do meu lado, que eu estava sozinha e sem saber o que fazer da vida.

Meu telefone tocou e eu deixei tocar, como deixei outras tantas vezes. Após oito toques daquele som irritante, a secretaria eletrônica entrou em ação e eu ouvi a milésima mensagem: “Ei, larga de ser besta. Eu sei que dói, mas você não precisa sofrer sozinha, todos nós estamos tristes. Me liga ou pelo menos atende”.

Todos já tinham me ligado, todos eu ignorei. Minha secretaria eletrônica encheu-se de mensagens e eu não agüentava mais ouvi-las.

Mas a mensagem estava certa, eu não precisava sofrer sozinha, eles também sentiam a falta dele, mas eles entenderiam a intensidade do meu vazio?

Não - essa é a resposta -. Eles não entenderiam, perderam um amigo, importante ou não, era só um amigo. Eu perdi a razão, a única razão que eu tinha pra viver. E as facas da cozinha me pareciam muito convidativa… A idéia era tentadora, mas eu não ia me matar. Desejava apenas um dia acordar e constatar que estava morta.