quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Diálogo interativo

Não me olhe assim. Parece que está me lendo. Pára, por favor. Ué, porque eu não quero seus olhos me encarando desse jeito, parece até que fiz alguma coisa errada. Claro que não! É que você me olhando assim parece que sim, parece que você sabe de alguma coisa que eu não sei. Ué, não sei, me diz você o que você sabe. Já pedi pra parar. Seus olhos assim em mim me deixam tímida, fico com vergonha. De você, ué, já disse que parece que me lê. Vai descobrir meus segredos. Ah para, você tá me deixando vermelha. Só você acha. Já disse você tem muito amor nos olhos, por isso me vê assim tão linda.

Me diga a outra parte ;)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sobre ansiedade e como eu detesto me sentir sozinha

Hoje o meu pai me ligou. Normal, ele sempre me liga, não todos os dias, mas de vez enquanto pra saber se tá tudo bem, se preciso de alguma coisa, como está a faculdade, quantos dias faltam pra acabar e etc. Mas hoje me deu uma tristeza tão grande ouvir ele dizer que só vem na semana que vem, que "daqui a pouquinho a gente tá aí", foi um daqueles momentos em que eu quis chorar no telefone e implorar para ele vir hoje ou amanhã, mas que não demorasse. 

Hoje foi um daqueles dias em que me dá uma crise de ansiedade e fico incapaz de fazer qualquer coisa. Perco por completo a concentração e choro por carinho em todos os lados, faço manha e drama, tudo por uma pitadinha de atenção. Foi um desses dias de crise que me pegou hoje e me fez torcer para chegar logo alguém em casa, pois além de tudo sofri sozinha, eu sempre sofro sozinha.

Hoje foi triste, tive que te deixar. Você bem sabe como esses dias em que você vai e eu fico me deixam triste, aqueles em que vou e você fica também me doem, todas despedidas me doem essa é a verdade. Mas foi justo hoje que você foi, hoje em que toda minha ansiedade me atacou e toda minha tristeza veio para fora, hoje em que todos os filmes me fazem chorar.

Hoje foi um dia em que tentei fazer de tudo, puxar longas conversar no Facebook, ler meus infinitos textos teóricos ou aquele literário em que é preciso aplicar a teoria, tentei partir para a leitura livre, sem obrigações, tentei assistir filmes, mas eu sempre pulei para minhas partes preferidas e perdi o interesse. Tentei até mesmo achar interessante os testes da internet, porém hoje nem isso me bastava. E vinha aquele sentimento de tristeza que amarra o peito e coça o nariz e eu fico feliz por estar no meu quarto e não no meio da rua. 

Hoje chorei com post no Facebook, com conversa de internet, com Frozen e estou a ponto de chorar se não chover. Hoje é um daqueles dias em que o que eu mais queria era uma companhia, não pra contar sobre minha ansiedade meu trauma da solidão, só alguém pra conversar e distrair minha cabeça cheia de minhocas.

Hoje agradeci por ter ganho tantos doces e chocolates no dias das crianças. Obrigada mãe e pai, não sei o que seria de mim hoje sem eles.

sábado, 1 de novembro de 2014

Por que eu preciso do feminismo?

Hoje estava no Facebook, pra variar, e uma amiga publicou em um dos grupos que participo sobre uma página chamada Moça, não sou obrigado a ser feminista. Em um primeiro momento imaginei que fosse uma daquelas páginas em que as pessoas postam opiniões embasadas em algo, mas depois me caiu a ficha, no facebook? Não era uma página com diálogos, eram só pessoas reproduzindo desinformações e discursos de ódio. Não espero mais de algumas páginas, ainda mais as que não se abrem a diálogos, é sempre, "vão se foder", "isso é falta de louça para lavar". Me senti ofendida por várias frases, pensamentos e imagens  que eu vi e achei que seria bom enumerar o porque eu preciso do feminismo.

Nasci em uma das melhores famílias do Brasil, não em questões financeiras e nem em influência política ou econômica, por nada disso, mas porque na minha família sempre houve diálogo e igualdade de gêneros. Cresci vendo meus pais trabalharem a semana toda o dia todo, desempenhando as mesmas funções, ambos são professores, e nos fins de semana ambos cuidavam da casa, meu pai além de fazer a comida também lavava a louça, enquanto minha mãe era a motorista da casa. Tenho mais dois irmãos, uma menina e um menino, e desde pequenos fomos ensinados que todos devem ajudar nas tarefas de casa, que nós três tínhamos as mesmas obrigações, obrigações de criança, tirar a mesa, secar a louça. Meus pais nunca disseram que meu irmão não precisava lavar a louça. Mesmo meus avós nunca diferenciaram os netos das netas, todos tinham os mesmos deveres e privilégios. Claro que nem tudo era perfeito, no almoço do domingo, os homens faziam o churrasco e as mulheres lavavam a louça, mas para mim era só porque era uma ocasião diferente.

E mesmo com toda a minha criação, igualitária, vendo sempre meus pais dividindo as tarefas e a criação dos filhos, eram obrigações dos dois. Mesmo assim quando tive meus primeiros contatos com o feminismo em meus plenos 17 anos, logo percebi que era uma causa que correspondia minhas expectativas, colocava meus problemas em foco, E foi nesse primeiro contato que percebi o quanto machista e patriarcal é o mundo em que eu vivo, o quanto nós, mulheres, somos desunidas e de certa forma nos ensinaram a nos odiar, olha como ela tá bonita - é a maquiagem. E também somos sempre desvalorizadas, cobradas, submissas. Eu só descobri que precisava do feminismo quando eu conheci o feminismo.

domingo, 14 de setembro de 2014

There goes my hero

Todos os dias somos incentivados a acreditar em heróis, nos seus super poderes, na sua super inteligência, na luta conta o mal e na defesa do bem. A prova disso são os inúmeros quadrinhos, nos filmes, nas séries, na reprodução massificada de todas as suas imagens. Quando somos crianças, e até um pouco depois de grandes, acreditamos nos seus super poderes e que eles com certeza não existem, que são só personagens de histórias. 

Aí a gente cresce e começa a perceber que os heróis estão em todos os lugares, que eles não tem super poderes como visão raio laser ou soltam teias, mas eles tem coragem de enfrentar rotinas maçantes e muitas vezes com um sorriso no rosto, eles lutam pelo que acreditam e pelos seus sonhos. Eles estão por todos os lados, é só olhar direito e vamos ver todos os heróis que estão por aí salvando o dia.

Tenho alguns dos meus heróis, vejo alguns deles todos os dias, dou bom dia, boa noite e tenho longas conversas sobre nada onde cabem tudo. Com eles eu me abro e me espelho, em neles confio meus sonhos e medos, talvez não faça isso verbalmente, mas em cada abraço deixo um pouco de mim e levo um pouco deles.

E hoje uma das minhas heroínas foi embora, ela volta, mas parece que vai demorar tanto e eu vou sentir tanto essa ausência. Ela foi fazer o que sempre quis, morar no país que ela admirava de longe, daqui do Brasil, sentir na pele a vida italiana, voltar aos perrengues da vida universitária, conhecer novas pessoas e acrescentar novas experiências ao seu currículo tão vasto que eu admiro e quero para mim. Não nego que junto com a alegria por ela, também havia uma tristezinha, que também estava junto com uma preocupação, ela vai estar tão longe, tão sozinha, tão sem mim. Como ela vai se virar sem mim? E se ela precisar de ajuda? Também não consegui evitar aquela pontadinha de egoísmo que pedia pra ela ficar, pra não me deixar assim sozinha e tão vulnerável.

Ela foi, ta indo ainda, daqui a pouco ela volta, mas desde já a saudade ta bem grande.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Quase lá

Há alguns anos, não sei se muitos ou se poucos, talvez eu ainda fosse criança, eu tinha o sonho de ir morar sozinha, de ir embora pra bem longe, sair de casa e ganhar o  mundo. Talvez esse sentimento fosse fruto do meu espírito meio rebelde sem causa, meio anarquista. Talvez seja resultado da grande admiração que eu sentia pela irmã da minha mãe que eu só via nas férias, que morava longe e era tão diferente e mais legal que todo mundo que eu conhecia. 

Na minha cabecinha de sei lá quantos anos eu sairia de casa pra estudar e estaria tudo pronto me esperando. Eu alugaria um apartamento bem apertadinho e aconchegante, seria um daqueles sem muitas divisões. Eu teria muitas plantas espalhadas por ele, a maioria temperos e ervas. De tarde bateria sol na minha cama e eu sentaria lá todos os dias para ler um livro e tomar uma xícara de chá. Eu teria um cachorro, um não muito grande, um parecido com a Sari, parecido comigo, que gosta de fingir que é independente, mas que adora um afago. 

Além de ter esse meu cantinho todo lindo e montadinho, eu também teria um emprego legal, desses bem descolados e criativos, mas seria só uma preparação para uma carreira fabulosa como escritora. Eu também teria um namorado lindo e passaríamos a noite bebendo vinho e nos fins de semana nossos amigos dariam pequenas festas e seria divertido.

Mas ai a gente cresce e descobre que nada é simples nessa vida e que sair de casa é só o primeiro dos grandes desafios que nos esperam. A gente descobre que o mundo não está pronto para nenhum de nós e que ele nunca vai estar, que no fundo é tudo uma grande adaptação. Descobre que quando a gente é criança tudo parece mais fácil e que éramos bobos por querer virar adulto, tão mais cheios de problemas, tão mais complicados e ansiosos. E é incrível como os anos vão passando cada vez mais rápido, dando a estranha sensação de que o tempo está ficando mais curto, e não está mesmo? os dias estão longos, mas o ano está curto, 365 dias não é mais suficiente, e a cada ano que passa parece que fazemos cada vez menos. O tempo está passando tão rápido que quando menos esperamos trocamos o um pelo dois, e começamos a refletir sobre como seria quando a gente chegasse até aqui.

Não vou mentir e dizer que não tenho nada do que eu imaginava, tenho meus amigos nos fins de semana e nos dias da semana, como uma família. O namorado lindo é ainda mais lindo do que eu esperava. As noites de vinho estão ai, assim como as de cerveja, as de cachaça, as de cafézinho, mesmo que eu seja a mais ausente. Infelizmente, ou felizmente, chego aos meus vinte anos bem diferente do que eu imaginei que chegaria, mas acho que posso colocar todos esses planos como meta pra quando fizer trinta, e ainda acrescentar um carro só meu e não emprestado.

sábado, 24 de maio de 2014

O início de tudo

Nós nem tínhamos conversado direito, talvez nem nos cumprimentado. Mas ele sorriu pra mim e por um segundo o meu mundo se resumiu naquele sorriso.

Era só mais um dia como todos os outros, tirando que era fim de ano e todos estavam correndo com os trabalhos e as provas. Admito que estava tranquila, tudo já estava adiantado e eu gozava de ligeiro conforto só me faltavam as provas, mas não seria difícil, apesar de tentar parecer que não me importava, sempre tentei ser uma boa aluna. 

Porém ainda faltava um maldito trabalho pra terminar, coisa bem pequena, se não me engano era só a conclusão de alguma coisa sobre a influência das teorias freudianas na sociedade contemporânea. Fui pra casa de um amigo pra terminar o trabalho com o resto do grupo e passamos lá a tarde toda escrevendo sobre Freud e a sociedade e como as pessoas sofrem de diversos transtornos que esse tal psicanalista tentou explicar.

Estávamos no finzinho das 30 páginas e fizemos uma pausa, haviam cérebros dando tilti e a fome tava forte. Na cozinha estava um outro morador da casa, tinha acabado de chegar da aula e estava jantando. O dono da casa fez lanches para todos e nos sentamos na sala para comer, o outro morador depois de jantar sentou-se com a gente, na minha frente e entrou na nossa conversa.

Falávamos sobre qualquer coisa e provavelmente coisa alguma, e ele, o outro morador, me olhava de tempos em tempos, sempre que eu falava e quando ele falava. Mas não apenas olhava por educação, olhava com profundidade, de um jeito que me deixava vermelha e me fazia olhar pra baixo e sorrir e olhá-lo novamente e ver que ele ainda me olhava e e me deixava ainda mais vermelha. 

Nem é preciso dizer que o trabalho não chegou a ser concluído naquele dia, conversamos até escurecer e infelizmente precisei ir pra casa, poderia passar o resto da noite perto dele e sorrindo toda vez que meus olhos se encontravam com os dele. Porém por destino ou apenas porque nossos olhos se encontravam e de alguma forma eles combinavam, ele se ofereceu para me levar em casa, não era tão tarde, não era perigoso, mas ele insistiu. 

Fomos andando lado a lado e conversando, "vai na festa na semana que vem?" "nem vou, não comprei", aquela conversa que na verdade é um flerte disfarçado. Não era longe, nossas casas, e eu desejei que o caminho fosse mais longo. 

Em casa, quando nos despedimos talvez ele tenha me roubado um beijo, talvez eu tenha oferecido um beijo, só sei que desde então nunca mais paramos de nos beijar.

sábado, 3 de maio de 2014

Brincadeira de criança

Duas postagens no mesmo dia é quase um milagre de páscoa fora de época, mas precisava escrever a alegria que eu estou sentindo ao ouvir minha vizinha, de provavelmente uns 5 anos, brincando. Não sou fã de crianças nem nada, aliás gosto de tomar distância delas por uma quentão de segurança para ambas as partes, porém está tão gostoso ouvi-la brincar e inventar personagens, cantando e correndo que me deu uma saudade tão grande de quando eu era criança e brincava assim, sozinha, mas acompanhada de tantos personagens que parecia até melhor do que se eu tivesse mais crianças com quem brincar. O mais engraçado é que estou ouvindo ela cantar e rindo junto igual criança. Enfim, só queria contar isso, preguiça e sem ideia pra algo melhor.

Eles vão e fico meio órfã

Não sei dizer se era um sonho ou só uma vontade muito grande, mas sempre quis morar fora, em outra cidade, ter minha casa e nunca mais arrumar meu quarto. Talvez essa vontade tenha sido influência da minha tia, marcou minha infância ter ela sempre indo e vindo da casa da minha vó, de ir buscá-la na rodoviária e depois ir deixá-la lá para voltar pra Assis, era sempre de domingo e eu sempre ia dormir chorando. A bem da verdade é que não sei porque eu chorava tanto, claro que era a minha tia favorita e ela só vinha nas férias e todo mundo adorava quando ela vinha - pouquissímas pessoas tem a sorte de ter a tia que eu tenho e na infância então era melhor ainda -, mas não sei se era só por isso. Tenho um problema muito sério com despedidas, não gosto de dizer adeus e dar aquele abraço de "até logo e se cuida", me machuca tanto, mas é só quando eu gosto muito, talvez seja mesmo só por saudade que eu chorava.

Essas daí, essas despedidas todas é que são a pior parte de morar longe. Lembro que minha tia sempre chorava quando ia embora e eu choro também, por dentro e por fora, quando venho, quando vou, é estranho não saber mais a diferença entre ir e voltar.

Porém consigo pensar em um momento em que fica bem pior: quando eles vão, principalmente quando meus pais vão. Quando vão embora é sempre pior, parece que estou perdendo um pedaço de mim que nunca mais volta. Machuca quando vão e me deixam, fica um sentimento assim meio de solidão e ausência, parece que não voltarão nunca e eu fico com esse sentimento de que fiquei meio órfã.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O pequeno acendedor

Acende e apaga. Acende e apaga. Acende e apaga. Todos os dias e todas as noites. Não esqueça de acender as luzes, é perigoso ficar no breu. Quem sabe o que se esconde nas sombras, você tem medo do escuro? Não esqueça de apagá-las quando amanhecer também, pra que gastar gás à toa? Temos o sol, que luz há de melhor no mundo para nos iluminar?

Vamos pequeno acendedor, não se esqueça das lâmpadas! Todos contam com a sua precisão em acender e apagar. Eu sei que ninguém sabe quem você é, mas mesmo assim todos agradecem ao pequeno acendedor por todas as noites dar luz aos postes e todas as manhãs apagá-las para o sol reinar. Mas essa é a graça, fazer algo sem esperar reconhecimento, ser bom. Claro! Dou duro pra fazer os meus sapatos, claro que as pessoas devem me reconhecer pelo meu trabalho. Você é só uma criança, tem tanto para aprender.

Durma depois, ande, vá apagar as luzes que já está amanhecendo. Durma depois, quando voltar, primeiro as luzes. Você terá o dia todo para dormir. E daí? Você não é os outros meninos. Eles não são capazes de trazer a felicidade que você traz quando acende e apaga as luzes, ande deixe de ser preguiçoso. É preguiça sim! Onde já se viu? Você nunca foi de fazer birra, o que aconteceu? Ande, me conte!

Ah então é isso. Você conheceu uma menina e ela brinca no parque no fim da tarde, por isso você quer dormir tanto, para poder ficar acordado para vê-la? Que gracinha, e como ela era? Claro que é linda, você gosta dela. Mas não deve ser motivo para não querer mais apagar e acender as luzes. Se não for você, quem será? Porque não conta pra ela o que você faz de noite? Ela pode gostar mais de você se souber a grandiosa tarefa que você faz todas as noite. Claro que acho, aliás, tenho certeza. Isso mesmo garoto. Agora, ande e vá apagar as luzes que o dia já vem nascendo.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Sobre um filme que vi há muito tempo

A sala de cinema estava lotada, mas era de se esperar, Ninfomaníaca era o filme mais esperado do ano e ola que ainda estávamos em janeiro. Quando Lars Von Trier anunciou em Cannes que faria um filme sobre a vida sexual de uma mulher desde a infância até a juventude, todos ficaram chocados e ansiosos pelo filme que estava por vir.

O longa acabou sendo dividido em duas partes, mas isso não diminuiu a expectativa do público, talvez tenha deixado todos mais alvoroçados pelo filme, a maioria principalmente pela temática. Sexo é tabu, falar de sexo em público não é visto como socialmente aceito, o que dizer sobre um filme que tem uma ninfomaníaca como personagem principal? Além de ter o sexo como assunto principal, era a vida sexual da mulher, que por bem ou por mal a sociedade ainda julga como submissa e quando ela é dona de seu próprio corpo e da sua sexualidade, não demora até que as zonas mais conservadoras as tachem como vadias e putas. São esses temas tabus que fizeram do filme de Lars tão aguardado, é essa quebra do rótulo que faz o filme tão esperado.

O que Lars propõe é um filme sensorial, em que o expectador tem que estar atento com todos os seus sentidos para captar a atmosfera densa e reflexiva do filme. O que muito se pensa sobre Ninfomaníaca é que se trata de um filme com um cunho sexual apelativo, mas as cenas de nudez e sexo explicito são apenas o veiculo para mostrar metáforas sobre questionamentos do ser humano, como a busca incansável por uma resposta ou por sentir alguma coisa e o não sentir faz com que nos arrisquemos cada vez mais na busca por aquilo que nunca vamos ter.

Depois dos trailers, o grande filme. E o diretor surpreende já no inicio propondo um exercício de meditação que a plateia, ansiosa e agitada, não é capaz de entender e chega a pensar que tem algo de errado no projetor ou no filme, mas é apenas um convite para entrar no universo de Joe (Charlotte Gainsbourg e Stacy Martin, na juventude) e entender a sua vida e dilemas, sua eterna busca por alguma coisa que nem ela é capaz de explicar. Encontrada desacordada e machucada por Seligman (Stellan Skarsgard), é levada por ele para sua casa, onde recebe cuidados e passa a contar sua história na forma de capítulos que ganham seus nomes de acordo com o que acontece enquanto os dois conversam. O filme também é bem estético, com cortes bruscos, telas divididas e tipografias. Como já disse é um filme sensorial, Ninfomaníaca você não assiste, você sente.


quinta-feira, 6 de março de 2014

Hoje eu vi uma parte da história

Hoje fui para São Paulo com meus pais, estava ido comprar a tão desejada cortina pro quarto pra não ter mais que acordar com o sol queimando minha retina. Era algo absolutamente normal, mas ai alguém morreu. O pai de alguém que trabalha com a minha mãe, e antes de ir atras da tal cortina, minha mãe quis passar no velório para prestar suas condolências à amiga que acabou de perder o pai. Não vi nenhum problemas nisso, mas será que eu poderia esperar no carro?

Não gosto de velórios, o clima sempre é muito pesado e triste, claro que é triste, alguém morreu! Mas triste em um sentido ruim. Me sinto muito mal em velórios, tanto que evito entrar, mesmo porque acho extremamente desnecessário deixar o corpo ali exposto. E não pense em dizer que é para prestarmos uma última homenagem, o que tem ali é só um corpo frio e sem vida, a alma já se foi a tanto tempo que eu não vejo o menor sentindo em colocar a morte em tanta evidência.

Por outro lado gosto de cemitérios, é um lugar que tem tanta paz. Quem está ali descansa eternamente, na paz de alguém em que acreditaram em vida. Cemitérios são sossegados e tranquilos, eu passaria uma tarde feliz em um cemitério, fazendo um pique-nique e lendo um livro, acho que existe um lugar onde as pessoas fazem isso, devíamos fazer por aqui também, os mortos seriam mais felizes se seu lugar de descanso não fosse visto como mau assombrado.

Mas houve um momento em que meu pai me puxou de canto e disse que queria me mostrar uma coisa, me levou para uma parte atrás do velório, onde dava pra ver quase todo o cemitério e apontou para um grande muro vermelho e disse o seguinte "Aqui foi encontrada da década de 90 uma vala comum, onde o exército jogava os corpos dos presos políticos de São Paulo". Fiquei olhando consternada para o monumento e pensando, não nos mortos, claro que sou compadecida pela forma que morreram e rogo para que suas almas descansem e paz, mas o que está feito não pode ser mudado e que o passado sirva de lição para que os mesmos erros não sejam cometidos. Fiquei pensando nos vivos, nas famílias que até hoje procuram por seus entes, não há esperança de encontrar ninguém vivo, mas essas famílias só queriam respostas e um corpo para velar e visitar nos dias de verão. Pensei no sofrimento de todas essas pessoas, que ficaram aflitas quando não souberam o que tinha acontecido com quem foi levado pela polícia e que ainda estão por não saber que fim tiveram os corpos. 

Claro que não consegui me contentar em saber que ali era uma vala comum e dei uma pesquisada. Nos anos 90 foram encontradas 1049 ossadas dentro de sacos e sem identificação! Dentre essas só 7 foram identificadas em um período de 10 anos, e ai as identificações pararam, não sei exatamente o porque, talvez porque o Instituto de Medicina Legal da Unicamp tenha sido fechado logo depois das ossadas serem transferidas pra Usp. Talvez não seja tão bacana assim ficar descobrindo de quem é cada crânio, mas acho que aliviaria o coração de muita gente saber que encontraram os ossos dos perdidos na ditadura.



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Parece que foi ontem

Estava no ônibus voltando pra casa quando percebi que hoje faz um ano que me mudei para Bauru, achei a situação bem engraçada. Há um ano eu estava indo para Bauru para ficar lá, pra não voltar, pra viver e sentir a cidade. E agora, um ano depois estou fazendo o caminho oposto, mas não para ficar em Jundiaí, para viver na barra da saia da mãe. Volto para passar o que estão chamando de “férias”, mas não vejo como existem férias de duas semanas, de qualquer forma volto por um tempo, pra passar as férias na casa dos meus pais. Já pensou em que momento da sua vida você diria que ia pra casa dos pais passar as férias, porque lá já não é mais a sua casa? É estranho, faz um ano que moro nessa cidade que hoje chamo de minha, mas como eu demorei em aceitá-la! Tanto que eu chorei para ir embora, tanto que eu pensei em desistir e voltar pra saia da minha mãe! Ah como eu resisti a você, Bauru! Acho que para poucas pessoas esse corte do cordão umbilical foi tão difícil, tão doloroso e ainda em menos pessoas tenham gerado um apelido que não pegou.

O começo foi tão difícil, mas eu recebi um apoio tão grande das pessoas que me acolheram, que deram um teto pra mim e querendo ou não, me deram um colo em todos os meus choros. Alguns mais outros menos, mas todos tinham um jeito de mostrar a cidade a quem estava chegando, cada um do seu jeito. Eles fizeram com que eu entendesse melhor algumas coisas da vida, sobre convivência e independência, me fizeram rever ideias sobre família e cuidado. Estamos todos nós no mesmo barco.

E a faculdade? Ah, a faculdade é demais, poucos sabem qual é o gostinho de lutar por alguma coisa e alcançar. Não serei boba a ponto de dizer que é a Unesp é a melhor faculdade do mundo e o meu curso é o mais legal e mais maneiro que existe. Sejamos realistas, tem seus inúmeros defeitos e falhas, mas ainda sim é um lugar incrível, com pessoas e ideias maravilhosas e isso com certeza supera qualquer outra faculdade, qualquer outra instituição, faz desse lugar mágico. Foi pouco tempo, mas deu pra ouvir as cigarras cantando no verão e o vento fazendo barulho entre as frestas no inverno e de como a Unesp é um lugar a parte da cidade, com um clima particular e só dela.

Mas o melhor desse ano foram as pessoas, todas elas me ensinaram alguma coisa, o que não fazer e o que fazer, de certa forma o certo e o errado, não que exista certo ou errado em qualquer coisa. Foi tão bom ter crescido ao lado delas, ter acompanhado o meu desenvolvimento e o delas, participado de suas vidas, conquistas. Eu tenho uma família inteira em Bauru, por quem eu sofro de saudade quando estou longe. Acho que é por causa deles que quando a formatura chegar será tão triste, pensar que não conviverei mais tanto tempo com eles, talvez nem conviva! Sofro por antecedência.

E como falar de um ano de Unesp Bauru e não falar dele? Era o que eu não esperava desse ano e depois que o encontrei pareceu que eu o esperei a minha vida toda. Qualquer coisa que eu escreva vai parecer clichê e etc etc, mas é verdade quando eu digo que me faltam palavras para descrever o bem que me faz e a felicidade que eu sinto quando vejo ele sorrindo.

Foi um bom ano, repleto de sensações e sentimentos e talvez por isso tenho sido tão mágico, ele foi cheio e intenso. Espero isso dos próximos, intensos e cheios. E espero passar por eles ao lado das pessoas maravilhosas que conheci, que eu carinhosamente chamo de família de lá e de amor.


(texto escrito no ônibus no dia 25/02)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre pensamentos e privilégios que demoramos para entender

Pensei em escrever sobre várias coisas hoje, várias coisas mesmo, e também várias possibilidades. O que talvez eu escreva aqui posso postar no meu facebook, não posto por dois motivos, o primeiro é que gosto daqui como meio de me expressar, talvez por segurança, mesmo motivo pelo qual é mais fácil discutir por facebook do que pessoalmente, mas também minha ideia de que aqui é o meu espaço, tudo aqui tem a minha cara e o meu jeito e por isso acho que faz muito mais sentido escrever aqui do que lá, e também porque eu acho que acaba sendo muito mais uma reflexão minha do que qualquer outra coisa. O segundo ponto é poucos vão ler lá, poucos vão ler aqui, qual a diferença?

Hoje foi um dia em que li muita merda, mas muita mesmo. Concordo que cada um tem a sua opinião e que todos devem respeitar, o que não sou capaz de compreender é que pessoas sejam tão ignorantes a ponto de sair falando milhões de coisas sem um mínimo de conhecimento. Entendo que muito disso é consequência de criação, o que eu sou hoje em muito é resultado da educação que meus pais me deram, mas não sou capaz de compreender como alguém vai para uma universidade pública, ou mesmo que fosse uma particular, com um pensamento tão fechado e sem o menor interesse de sair da "bolha".

Falando sobre mim, entrei na faculdade com a cabeça muito diferente da que eu tenho agora, as ideias eram mais ou menos parecidas, mas faltava embasamento, faltava conhecimento para sair falando, na verdade ainda falta, não tenho segurança para falar. A faculdade me mudou muito, me fez crescer em vários aspectos, a pessoa que sou hoje sempre existiu, mas veio a tona na faculdade. Mas é muito fácil para mim ser pacifista, tentar me adaptar ao estilo "vida simples", ao não-consumismo, a tentar ao máximo levar uma vida saudável e ecológica, a pensar nos outros antes de pensar em mim, a tentar expulsar todo o mal de mim e ser uma pessoa boa. 

É fácil para mim porque eu tive escolhas e oportunidades, não sofro com nenhum tipo de preconceito, sou branca, hétero, de classe média e com uma família estruturada. Mas onde isso me dá o direito de apontar na cara do outro que não teve o que eu tive e dizer que a culpa é dele, que se ele está onde está porque quis, que foi uma escolha, quando na verdade ele não teve nenhuma escolha. Ninguém escolhe ser pobre e passar fome, ninguém escolhe estar nas ruas pedindo, roubando ou matando, é tudo consequência dessa sociedade conservadora e preconceituosa que ao invés de defender a minorias, só sabe chutar cachorro morto. É muito fácil dizer que a culpa é do marginal, quando se está seguro dentro da sua casa, com seus direitos garantidos e fumando a maconha que o tal do marginal te vendeu. 

Enfim, acho que me dispersei, mas acho que é bem isso.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Não é saudade, é um buraco imenso dentro de mim

Eu sei que faz só algumas horas desde que me despedi dele, que passei o fim de semana e até mais com ele, que dormir todos os dias na curvatura do ombro com o pescoço dele, que passamos dias de casal no começo de namoro, não se desgruda, não se larga. Sei de tudo isso, e sei que para a maioria isso serve de argumento para me dizer para não sentir essa ausência, essa saudade da maneira como eu sinto, mas, sabe, nunca me importei muito com a maioria.

Mesmo tendo passado todo o fim de semana com ele, e foi um fim de semana mágico, a despedida me dói, Talvez seja por isso que ela doa desse jeito, por ter sido tão bom ficar perto dele, por ter dado aquela sensação de que somos infinitos e imortais, por ter feito parecer que o tempo tinha parado e que eramos os sobreviventes do mundo. Talvez por tudo isso tenha sido tão ruim dizer até logo, dar um beijo de despedida e pedir se cuida e volta. Talvez ficar perto dele seja tão bom que tornou qualquer distância ruim.

Queria que seu cheiro ficasse em mim até você voltar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Por destino ou por acaso

Queria escrever sobre a minha felicidade do dia. Já disse que tenho sérios problemas para decidir em que eu acredito em relação a destino e acaso. As vezes a ideia de destino é muito boa, tenho exemplos na minha vida que comprovam que as vezes o destino é muito plausível. Porém a ideia do acaso também parece muito lógica, por um acaso eu fiz um caminho diferente e te encontrei.

O que quero contar é que hoje na faculdade, por um acaso ou pelo destino, decidi não levar o meu livro na bolsa como sempre. Carreguei-o comigo, junto ao peito e ao meu caderno. Nada de mais até aí, só alguém andando pelo campus. Por acaso ou destino, decidi que hoje pagaria a multa da faculdade, poderia ter escolhido qualquer outra data, mas fui hoje. Lá chegando, na biblioteca, deixei meu caderno e livro em cima do balcão, nada de mais, gente, todo mundo faz isso.

Para me atender poderia ter vindo outra pessoa, qualquer funcionário, mas por destino ou acaso, veio ele. Não sei quem ele é, mas aposto que se eu descreve-lo para qualquer aluno da faculdade saberão me dizer quem é. Um tipo diferente ao mesmo tempo que não, magro, calvo, com óculos que provavelmente são de um grau muito alto, essas são as características físicas dele. Poderia também acrescentar as outras, que provavelmente atribuem a ele, que eu provavelmente já atribuí a alguém só de olhar, julgando mesmo, porque negar algo que por muito tempo existiu em mim e provavelmente ainda existem resquícios? Enfim, ele é um tipo inusitado, excêntrico, eu diria.

A questão é, ele veio me atender e ele viu meu livro A insustentável leveza do ser do Milan Kundera, perguntou se eu estava gostando do que estava lendo, respondi que sim e começamos a conversar sobre o universo mágico que são os livros do Kundera, sobre a forma dele abordar temas como amor e sexo de uma maneira tão sútil e tão verdadeira sobre o ser humano, e como ele conta histórias diversas que são entrelaçadas, diferente ao mesmo tempo em que são iguais. E não só isso, ele ainda me deu indicações de outros livros do autor. Sorri satisfeita e agradeci e ele me sorriu de volta. Foi minha felicidade do dia.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Lucky Ones

Os dias tem sido tão longos e quentes. Você sente a temperatura dos nossos corpos subindo? É tão ardente o jeito como te olho, não sente que estamos pegando fogo? A gente se queima quando se toca. Gosto de como a terra que existe em você se mistura ao fogo que me consome e a gente se completa. Te sinto ardendo, arfando, sangrando. Gosto de como manchamos o lençol branco da minha cama.

Gosto da sua pele vermelha, arranhada. Seu peso em mim e sua respiração junto com a minha, o seu ar é o meu e minha boca pertence a sua. Observo. Seus olhos escuros e fixos em mim. Você me lê e me decifra. Está ouvindo? Esse som rouco e distante que sai da minha garganta é a resposta e um incentivo. Continue. Meus dedos e unhas deslizam pela sua pele branca e marcam caminhos, trajetos, me deixam conhecer os seus atalhos. Meus olhos olham os seus e me dizem sobre o futuro. Sinto meu corpo tremer junto com o seu. Gosto de como nossos músculos entram em ressonância, vibrando na mesma frequência. A gente se mistura e se sente, arfando como iguais, conquistadores um do outro.

Gosto de como sorri pra mim com a respiração ainda ofegante, ainda com seu peso em mim e os olhos escuros perdidos nos meus. Sorrio com e para você. Deitada do seu lado eu me sinto completa, mesmo que nunca tenha sido pela metade. Sua pele na minha não me queima. Eletrifica. Fecho meus dedos nos seus e sorrio. Talvez, dessa vez, nós sejamos os sortudos.