sábado, 30 de junho de 2012

Cartas sem destinatário

A noite sempre é mais silenciosa, boa para pensar. À noite os apaixonados ardem em sonhos e os cansados se esquecem no sono. À noite a paz reina nas casas e vira guerra no pensamento dos aflitos. O sono impera na cabeça dos pais e a preocupação na mente das mães com seus filhos doentes, e se não passarem dessa noite? Os amantes não querem que ela termine e os vigias anseiam pelo seu fim.

Também é quando escurece que eu penso em você, quando o mundo dentro da minha cabeça fica quieto. É como se os habitantes da minha cabeça soubessem que você vem e que eles não devem atrapalhar sua estadia, com sua algazarra costumeira. Gosto que venha a noite, durante o dia não seria interessante, não quero te misturar com as banalidades da vida, com a rotina triste e tumultuada, de triste em você já me basta sua ausência. Quando você vem, penso na sua risada, nos seus olhos que me deixam vermelha. Fico imaginando histórias, tal qual uma criança que sonha, e aí eu adormeço.

Mas em algumas noite você não vem, e eu não se é porque minha cabeça não entrou em silêncio ou se é porque você já não existe mais em mim como antes. E a noite volta a ser só uma passagem silenciosa, boa para pensar.

domingo, 17 de junho de 2012

Álvaro, seu lindo, ninguém me entende como você..

Poema em linha reta - Álvaro de Campos

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sorriso lindo e o problemas das despedidas

Quando eu vou ao dentista, ele sempre diz "Olha, a moça com o sorriso mais bonito de Jundiaí", não duvido que ele diga isso para todas já que ele é quem "faz" o sorriso de todas elas. Mas eu sou meio tonta e acredito quando ele diz isso, em parte porque sou meio egocêntrica e em partes porque por muito tempo ouvi alguém dizendo que meu sorriso é lindo. É muito feio da minha parte, dizer que o meu sorriso é lindo, mas feio eu sei que ele não é, ainda mais depois que eu tirei o aparelho... O fato é que eu sou meio gamada em sorrisos, gosto de ver as pessoas sorrindo, e tendo sempre estar sorrindo, não apenas porque eu acho o meu sorriso bonito, mas pelo que ele transmite às pessoas: todo mundo se sente melhor ao ver alguém sorrindo, é meio que instantaneo, você vê alguém sorrindo e sorri. Gosto de pensar que tudo que alguém precisa para deixar o dia melhor é ver um sorriso e gosto de imaginar que esse sorriso pode ser o meu, então eu tento estar sempre sorridente, mesmo que esteja triste. Não duvido que tenha muita gente que me ache idiota por andar sorrindo que nem tonta, nao minha antiga escola tenho certeza que tinha gente que pensava assim, mas não me importei muito, depois de um tempo a gente aprende o valor de um sorriso, é preciso crescimento para isso.

Mas nem sempre da para sorrir, algumas situações exigem expressões mais sérias, ou não permitem algo maia alegre. Eu, por exemplo, não consigo sorrir quando me despeço de alguém qualquer que seja a circunstância. Despedidas me deixam triste, mesmo que eu vá ver a pessoa no dia seguinte, não gosto de dar tchau, me dá um vazio ver a pessoa indo ou ficando, parece que nunca mais vai voltar e que se perdeu para sempre, sou dramática, eu sei. Não sei porque eu fico assim, mas é sempre, com algumas pessoas mais e outras menos, eu fico sem graça e com medo de ir, até no telefone eu não gosto de dizer tchau, msn, sms, facebook, carta, sinal de fumaça, em qualquer veiculo, a despedida me deixa triste, meio boba e tonta, meio medrosa e fatalista. E aí, meu belo sorriso não saí e passa a impressão errada.

Acho-me estranha por isso, estou sempre sorrindo, mas quando é mais necessário, ele trava. Quando eu devia sorrir para mostrar que gostei do tempo que passei com a pessoa e que gostaria de vê-la novamene, eu fico com aquela cara bizarra que só eu tenho e parece que eu não ligo para a pessoa de quem estou me despedindo, como se eu não ligasse para ela. O que não é verdade, já que eu me importo mais quando eu faço mimimi e a minha cara bizarra, do que quando eu faço uma cara normal. Então, se você que me lê, já se despediu de mim e eu fiquei com uma cara esquizita, é porque eu me importo com você. E se eu também fiz mimimi é porque me importo ainda mais.