terça-feira, 27 de dezembro de 2016

as vezes fico meio triste sem motivo nenhum

Parece que não, ou pelo menos eu tento fazer parecer que não, mas eu sou tão insegura que as vezes nem sei. Carrego minha insegurança nos ombros como uma criança e faço todas as vontades dela, se ela esperneia e me pede doces, eu dou quantos ela quiser. E se ela me diz que hoje não ta bom e que tenho que ficar em casa cuidando dela eu fico, mesmo que tudo que eu queria era sair e me queimar de sol.

Ela sabe que to sempre aqui pra ela e tem dias que nossa, ela exige de mim mais do que consigo aguentar e me vejo obrigada a ceder e aceitar que não sou tudo que acreditava ser e que não vou conseguir. São os dias em que sem motivo nenhum eu fico triste e quero sumir. Aqueles em que o mundo vem parecendo um torpedo e quase me acerta no meio do estômago.

Levo a insegurança nos ombros e as vezes ela puxa meu cabelo e sussurra no meu ouvido "você não é boa o suficinete", e isso basta pra que eu não me sinta mesmo e que aquele sentimento de não ser o bastante e de estar incomodando se apodera de mim. Aí vem as redes sociais e servem de alimento pra insegurança que fica cada hora mais forte. 

Só espero que ela caia logo no sono.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

um dia daqueles bem meio médio

As vezes, e veja bem que eu disse as vezes, eu queria sumir no sentido mais puro da palavra. Sumir, deixar de existir, desaparecer como um passe de mágica. As vezes dá essa vontade de ir embora também, de juntar tudo em uma malinha de mão e ir sei lá pra onde, pra lugar nenhum, pra qualquer lugar, pra onde tenha sol batendo na janela no fim da tarde e esquentando meu colchão.

Tem dias que eu queria sumir, cavar um buraco bem fundo no chão e me enterrar ali pra sempre e ficar por ali debaixo da terra, no escuro esperando tudo passar. Nesses dias dá vontade de ficar trancada no quarto e fingir que não existo, que não tem mais ninguém. São dias em que eu dormiria o dia todo só pra não precisar sair. Dá até uma vontadinha de inventar uma dor de barriga, uma garganta ruim pra não ter que sair da cama. 

Hoje eu inventei todas as desculpas do mundo pra não ter que levantar, adiei a soneca o máximo possível pra não ser obrigada a abrir a janela e encarar esse dia. Um dia que era igual a qualquer outro dia, que tinha tudo pra ser bem comum e normal, que não tinha nada de especial, que era só um dia, mas que algo em mim fez parecer o pior dia pra acordar.

Enrolei pra levantar, enrolei pra sair do quarto. Só ousei abrir a porta quando a fome gritou dentro de mim e era isso ou ter uma crise hipoglicêmica. Não queria ver ninguém, só queria me afundar em algum lugar e ficar lá por um tempo. Não queria ter que conversar e responder que tava tudo bem, porque hoje não tava e eu não tinha como explicar o porque de não estar tudo bem, eu ainda não sei porque não está tudo bem.

Dias como hoje despertam em mim uma solidão sem tamanho e é a maior contradição do universo. Porque eu quero ficar sozinha, quero todo mundo bem longe, quero que esqueçam de mim e quem eu sou e vou afastando quem começa a querer chegar muito perto. E é nessas horas que tudo que eu queria é um abraço daqueles que demoram pra acabar e que parecem que deixam as coisas mais quentinhas na vida. Mas como nesses dias eu não quero gente perto fica difícil ter um abraço.

sábado, 19 de novembro de 2016

as palavras me libertam de mim mesma

hoje eu fumei três cigarros seguidos. você sabe que eu não fumo, pelo menos não normalmente. mas hoje eu tava com um vazio tão grande que precisava de qualquer coisa que me preenchesse sem que mais ninguém se machucasse. você sabe que tenho mania de colocar os outros no meio do meu caos e que vez ou outra alguém acaba se machucando. muita vezes eu mesma.

hoje eu fumei três cigarros seguidos porque era tudo o que eu tinha. fumei porque não via outra saída. tinha só uma eterna vontade de me perder em alguma coisa. se não posso mais me perder no seu cheiro, que seja no cheiro de nicotina que agora está impregnado nas minhas roupas. 

fumei hoje porque queria sentir qualquer coisa que não fosse esse vazio constante, essa impressão de que o mundo inteiro está indo e eu ficando. tive vontade de sair andando na rua a esmo também, mas acho que tenho mais medo de sair andando meia noite do que de acabar com o pouco que resta dos meus pulmões. 

fumei hoje porque eu queria qualquer coisa que fizesse com que eu me sentisse um pouco mais viva. se não pode ser com você tocando meu corpo, que seja com o vento frio da varanda e o toque áspero do papel na minha boca. 

tenho estado perdida por tanto tempo que acho que esqueci de como faz pra me encontrar. tô buscando umas saídas alternativas, nada que valha muito a pena, talvez qualquer coisa que tire esse gosto amargo da garganta e o salgado dos olhos. queria me perder de alguma forma, queria alguma coisa que me ajudasse a dormir sem pensar muito. queria qualquer coisa que me fizesse acordar sem sentir o mundo pesando nos cobertores e tornasse fácil o dia seguinte, sem a culpa de ter arrastado alguém pra dentro disso tudo.

hoje eu fumei três cigarros seguidos porque não sei o que aconteceu entre mim e você, porque de uma forma ou de outra ainda sigo pensando onde foi que eu errei.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

contradição

Tem dias, e são quase todos os dias, que a única coisa que eu quero é que tudo passe. Esse é um sentimento comum em mim, um desejo ardente de que tudo acabe de uma vez. Talvez uma certa apatia em relação ao mundo, uma insensibilidade ao que acontece ao redor. Uma constante vontade de não sentir, de estabilizar a vida em modo avião e não oscilar em mais nada.

Sempre vivi na impressão de que estou passando apática pela vida, que as coisas estão acontecendo e eu não consigo acompanhar o ritmo. As vezes tenho a impressão de que parei no tempo em algum momento distante e que não consigo definir. Finquei meus pés em um espaço e lá estou até hoje, a vida passa por mim e nem consigo ver o que ta acontecendo.

Queria pelo menos saber onde foi que eu parei, quem sabe não dá pra voltar lá e me fazer andar de novo.

Engraçado pensar que essa é a sensação que existe em mim ao mesmo tempo em que vivo em um constante atropelar de sentimentos e sensações, em não me permitir parar e respirar. Ansiedade define cada segundo dos meus dias, ou estou aguardando o futuro e esqueço o que tá em volta. Ou então fico olhando pro passado e do mesmo jeito ignoro o já.

Parei em algum ponto em que nada ta sendo certo.

domingo, 30 de outubro de 2016

de.sa.pe.go

Quem me ouve falando sobre cabelo curto não imagina a vitória que foi cortar o meu. Quem me ouvia aconselhando amigas: "corta, você não vai se arrepender", "vai ser maravilhoso", "é uma libertação incrível", não imagina as prisões que criei dentro de mim.

Eu gosto dele do jeito que ele está agora, na altura dos meus ombros, talvez mais curto. Gosto porque dizem que tem personalidade, que combina comigo, que ta fofinho igual eu. Gosto porque é prático, que seca rápido, pra lavar são dois palitos e ainda economizo no shampoo.

Mas a decisão levou pelo menos alguns meses de reflexão, de pesquisa e de será que eu quero fazer isso mesmo? Fiquei muito tempo olhando pro espelho e passando os dedos pelo meu cabelo, prendendo, soltando, analisando cada curva que fazia. Era difícil imaginá-lo curto depois de tanto tempo, parecia que cortando eu perderia uma parte de mim.

Mas se parar para pensar de maneira mais racional eu realmente perdi uma parte de mim. Em cada pedaço de cabelo cortado tinha uma partizinha do meu DNA, que é a essência biológica de tudo o que eu sou. Ao mesmo tempo em que cada parte também era uma realidade minha, uma história que passou e que estava em mim. Quando cortei, tudo se foi.

Levei muito tempo pra decidir se queria mesmo me livrar de tudo isso, se queria cortar fora tantas coisas que servem de metáfora para cortar o cabelo. Gosto de pensar que aplico todas essas metáforas na minha decisão de cortar o que foi alguns anos de cuidado e dedicação com o cabelinho.

Cortar é sempre um ato de desapego e acho que é isso que tenho tentando colocar dentro de mim, um desapego de tudo que me cerca em uma tentativa de me bastar em mim mesma. Não é fácil, desapegar exige mais de autocontrole e esforço do que jamais pensei. Mas a experiência está valendo, comecei com o cabelo e a sensação que deu foi bem boa.

domingo, 16 de outubro de 2016

TPM feat. Ansiedade

Quanto tempo leva pra alguém se tornar um completo estranho?

Eu nem sei mais quanto tempo faz desde a última vez que nos vimos e não sei se foi um encontro desconfortável e cheio de sorrisos amarelo. Quantos dias fazem desde que a gente gargalhou junto por causa daqueles mashups de músicas com sons de animais. Ou quando foi que seu abraço me pareceu um lugar seguro, não lembro mais quando foi a última vez.

Lembro da última mensagem e de como foi estranho de escrever e como eu estava desesperada porque as coisas começavam a se acumular dentro de mim, era um daqueles momentos em que eu perco o rumo e a respiração trava. Era quase uma crise de pânico e você foi a primeira pessoa em que pensei. Peço desculpas por isso.

Também quis te mandar mensagem ontem e te contar das cagadas da minha vida, mas seria pra quê? Pra ouvir alguém dizendo que eu fiz errado mais uma vez, que no fundo a culpa é minha mesmo, que eu não sei me comportar e muito menos beber. Não te mandei mensagem pra te contar como estava a vida e nem vou mandar, sabe?

Agora, nesse exato instante tudo que não preciso é de alguém me criticando, me dizendo das cagadas que eu fiz e de como a culpa é sempre minha no final das contas. Agora, nesse instante, tudo que eu queria era um afago, alguém que me pegasse no colo e passasse a mão na minha cabeça, calma, vai ficar tudo bem. Alguém pra dizer que não preciso me preocupar, que no fim tudo da certo e que se ainda não deu ainda vai dar.

Dias como hoje dão sempre a sensação de que alguma coisa vai me sufocar e eu não vou conseguir aguentar. Que o mundo todo está em cima de mim e tá me empurrando pra baixo. É a sensação de estar em uma câmara de compressão hidráulica e ir ficando cada vez mais fechada dentro das paredes. A impressão de ter uma bexiga na garganta e não conseguir puxar o ar, de ter um peso no peito e não poder respirar, cordas nos braços e pernas e também não conseguir andar. 

É um vazio constante dentro de mim que não sei como preencher.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Crônica de mudança

Andar hoje pelo bairro onde eu cresci é uma experiencia entranha. Antes eu conhecia todo mundo, o Zé do Pito, que criava periquitos, a dona Josefa, que dava aula de espanhol, a Irene que fazia as melhores balas de coco. Conhecia todos os cachorros pelo nome e não era perigoso colocar a mão dentro das grades pra fazer carinho, menos no Thor, aquele vermelho lá da esquina, esse sempre deu medo na molecada. Agora não conheço mais ninguém, o bairro cresceu, tem vários prédios em volta, mais prédios do que casa, tantos que parecem até uma cerquinha ao redor da gente. Os cachorros de antes devem ter todos morrido, ou se mudaram daqui, os que vem latir no portão, irritados com os passos que invadem seus territórios, são todos tão assustadores como Thor foi uma época.

Fazia anos que não cruzava a praça a pé, agora tão vazia e bem cuidada, não tem mais ninguém pra correr amassando a grama e quebrando os galhos das plantas, ninguém mais desce o morro no papelão. Será que todas as crianças cresceram? E aqueles que era pequenininhos quando eu fui? Será que já faz tanto tempo e até eles já são grandes demais pra brincar na praça?

As casas estão diferentes também, tudo agora são sobrados e os muros estão tão mais altos, nem vejo mais os jardins que as vovós cuidavam com tanto afinco. Ah sim, esse sempre foi um bairro de vovós e toda terça elas iam juntas pra ginastica e no domingo iam juntas para a igreja. Não vejo mais as vovós, mas também não acordo mais tão cedo quanto antes.

O bosque está lá ainda, mas as amoreiras estão tão mais altas que já não alcanço as amoras vermelhas e pretas que me faziam tão feliz em 2003. Era tanta amora que uma vez a vó fez geleia, mas nada era tão bom quanto pegar da árvore e comer e sujar a cara e a boca de tanta doçura. 

Voltar pra cá é estranho porque não pareço mais pertencer à esse lugar. Primeiro decidi ir morar longe, fazer a faculdade onde a mãe não pudesse vigiar e depois sempre que voltava troquei meus passos pelo barulho do motor e a chave do carro passou a ser indispensável nas minhas mãos. Talvez não tenha sido só o lugar que mudou tanto assim.

sábado, 30 de julho de 2016

O espelho não me prova que envelheço

Vi uma vez em alguma rede social da vida a pergunta sobre o que a realmente vimos quando olhamos no espelho. Fiquei por muito tempo pensando sobre o que eu vejo quando olho no espelho, fiquei refletindo sobre aquelas histórias de se enxergar de verdade, sobre o espelho mostrar o que queremos ver e também aquela parte física de que é apenas luz.

Passei boa parte da vida meio brigada com o espelho. Entenda, eu era o perfeito estereótipo de garota nerd: usava óculos com um alto grau de miopia, aparelhos nos dentes e comecei a sofrer com as espinhas e a puberdade aos 11 anos, e as  espinhas não foram piedosas. Não era fácil me olhar no espelho até os 15 anos e ainda por cima disso eu ouvia da minha médica que eu nunca seria magra por mais que eu quisesse, que seria sempre a gordinha. Não preciso dizer que nessa época minha autoestima vivia em frangalhos e eu me escondia em roupas largas e uma franja longa. 

Aos 14 anos me livrei dos óculos e descobri um novo mundo com as lentes de contato, os óculos se tornaram acessórios apenas para os domingos em que eu não ia sair de casa. Meus óculos foram durante muito tempo como uma máscara que me deformava o rosto em razão do 8,5 de miopia. Hoje ele ainda deforma, ainda deixa meu nariz marcado por causa do peso, mas o sinto mais como uma extensão de mim, uma parte removível e que pode ser facilmente trocada por suas películas gelatinosas tão eficientes quanto, e incomodas à sua maneira. Fiz as pazes com a minha visão e acho divertido pensar que sem óculos eu vivo em um mundo de formas totalmente meu em que um saco de lixo preto pode facilmente ser confundido com um cachorro.

Tirar o aparelho foi a maior conquista, não que eles me incomodassem como os óculos, mas é que sempre fui de sorrisos e fazia anos que não via o meu sem aqueles quadradinhos metálicos. Lembro que tinha 17 anos e estava numa época de provar pra todo mundo, e acho que pra mim mesma, que eu tava bem feliz na vida. 

Hoje essa época parece tão distante, tão longe do que sou agora e ao mesmo tempo vive do lado esquerdo do meu peito e queima sempre que me esqueço um pouco de mim. Tento estabelecer uma relação boa com o espelho, as vezes a gente ainda briga, mas nos outros dias nos contemplamos com igual admiração.  As vezes beira a obsessão, mas nasci sob a constelação de leão e alguns astrólogos insistem em dizer que espelhos me atraem como imãs.

O que eu vejo quando olho no espelho eu não sei bem o que é. Vejo a mim mesma de um jeito que gosto de ser, gosto dos meus olhos e da minha boca. Gosto do formato das bochechas e também do pescoço. Não reclamo mais do tamanho dos meus peitos e nem da largura do meu quadril. Mas também gosto do que eu me tornei, da pessoa que está refletida e de tudo o que carrego por de trás da íris. 

terça-feira, 26 de julho de 2016

22

Você já sentiu como se não fosse capaz de respirar? Como se seu pulmão não conseguisse mais expandir pra deixar o ar entrar e o oxigênio chegar nos seus alvéolos e dai então para a corrente sanguínea. Falando em sangue, já sentiu ele correndo por suas veias? É sério, já sentiu como se percebesse que ele ta correndo dentro de você, pulsando dentro da sua cabeça?

Sabe a sensação das mãos geladas e formigantes? Aquela em que parece que se a gente tentar a gente não segura nada? E a constante vontade de estralar os dedos, de mexer os pés, arrumar o cabelo, desarrumar o cabelo? Uma necessidade de movimento incapaz de ficar imóvel.

Mas também uma imobilidade latente. Não consigo me mexer apesar da necessidade. O corpo não coopera com o resto, os músculos não obedecem. Já pensou que se saísse na rua as coisas seriam terríveis? Tudo que você queria era deitar em posição fetal e ficar ali pra sempre. Já se sentiu assim?

As vezes você achou que o mundo inteiro estava desabando e que você estava sozinho nessa? Que não tinha pra onde correr e que as paredes começaram a se fechar? Não é filme de ficção, é que as vezes parece que o ar fica pesado e sufoca mesmo, acho que são todas aquelas palavras que eu não disse.

domingo, 17 de julho de 2016

Água e gelo

Chovia tanto naquela tarde que parecia que o céu inteiro estava triste. Era aquela chuva chata, gelada e estranha, que não tem fim e consegue molhar até a alma.

Ela estava sentada na minha frente em um daqueles quiosques à beira mar. Não sei bem porque a gente estava naquele lugar com tantos outros lugares mais quentes e secos. Ela tinha o olhar distante de sempre, procurava alguma coisa no mar que eu não era capaz de conhecer. 

Era um silêncio áspero, igual a todos os que pareciam existir entre a gente nos último meses. Quado comecei a falar não consegui me conter e tudo saiu como um dilúvio. Precisamos terminar, essa relação me faz mal, me suga as forças e não sei mais quem eu sou. Você me boicota, me azucrina, arranha. Tudo o que eu faço está errado e não é suficiente. Eu te amo, mas não posso mais ficar com você. 

Ela me encarou com olhos de geleira, percebi que eu estava tremendo, depois voltou a procurar no mar aquilo que nunca vou saber o que é. E então duas palavras me cortaram o coração. Tudo bem. Uma aceitação tão rápida, tão simples, tão diferente do que a gente era. Quis gritar, quis xingar, quis bater o punho na mesa e cobrar um explicação. Fiquei em silêncio.

- Você queria que eu estivesse chorando.

Não era uma pergunta, mas eu ainda sim respondi na minha cabeça: é, eu queria.

Os olhos de geleira voltaram e nem uma calota havia se soltado. Ela não chorou, mas era uma pedra de gelo pronta pra me queimar ao menor toque. Disse que concordava, não tava funcionando, a gente não combinava. Até no fim eramos opostos: ela não me amava, mas ainda sim continuaria comigo.

Levantei, me despedi e saí. Espera, eu to de carro, te levo em casa. Não precisa, gosto de andar na chuva. Gosto de andar na chuva, mas a água que escorria no meu rosto tinha um gosto salgado.





17/10/2015

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Na velocidade da vida, eu passo por cima

Cheguei a conclusão de que estou sempre me atropelando. Sempre mesmo. É a velha mania de tentar passar por cima de tudo. Eu atropelei aquele momento de deixar a água escorrer, de deixar o coração pesar e a alma sofrer. Pulei toda a parte humana da coisa, toda a parte que torna tudo tão triste e bonito. Quis chegar logo no final, quando vou olhar pra trás e rir, aquela em que posso te esbarrar na festa e não terei vontade de sair correndo e vomitar.

Nunca me dei muito tempo pra pensar antes de fazer as coisas. Teimosa, já dizia a minha mãe. Arrogante também, dizia meu pai. Grande demais pra sentir alguma coisa, esperta demais pra tomar decisões erradas. Não me dou alguns direitos que deveriam ser importantes. Não me permito sentar e parar pra respirar. Não me deixo sentir o que há dentro de mim. Não me permito só olhar pro mar e molhar meus pés.

Não me deixo sentir e guardo algumas magoas no peito e alguns sentimentos eu engulo com gelo e limão. Vou enfiando tudo goela a baixo pra ver se para de fazer doer e começa a valer a pena. Nunca vale. Eu não me deixo sentir e o que sobra é banal demais causar alguma coisa. É muito álcool e nicotina entorpecendo meus músculos pra que algo consiga causar mais do que cócegas. Mas aquilo que engoli continua aqui, borbulhando como um caldeirão bem quente ou como um vulcão prestes a explodir. 

Se eu parar, por alguns minutos que seja, esse caldeirão todo transborda e me promete liberdade, mas sempre me avisa do preço, das noites eternas e da certeza de não conseguir enxergar por uns dias. Me avisa da dor de estômago, da ânsia e do peso que me acompanhará por dias. Mas eu sempre acabo preferindo me atropelar e peço mais gelo que assim é mais fácil de esquecer que ta queimando.





segunda-feira, 11 de julho de 2016

Enquanto te esperava

Estava deitado na cama já fazia algum tempo, talvez meia hora? Olhava o teto e ao fundo tocava algo que lembrava bossa nova ou talvez fosse jazz, não sabia ao certo sobre o gosto musical dela apesar de tantas conversas que já tiveram, não era algo que ela costumava falar. Esperava ela sair do banho.

Permaneceu deitado olhando o teto e pensando em como gostava de ficar ali. Era o quarto dela e era um dos lugares onde ele mais gostava de ficar, de alguma forma era o espaço dela e ele se sentia feliz por ela o aceitar ali, por deixar que ele fizesse parte desse mundo meio particular que ela tinha. 

Sentou-se e olhou todos os elementos do quarto, gostava dali, principalmente da varanda mesmo odiando as cortinas. Gostava de ficar ali, sentindo o vento e o cheiro de mato das várias árvores que tinha do outro lado da rua. Decidiu que a esperaria lá, onde era mais fresco e quando ela chegasse poderia abraça-la sob as estrelas, clichê, mas romântico.

Antes viu que em cima do criado-mudo estavam todos os presentes que ele deu pra ela, dados e emprestados, alguns com histórias muito engraçadas, como o incensário que ela raramente usava. Para atravessar o quarto, havia um mar de roupas pelo chão, dele, dela, misturados. Pensou em como levavam uma vida de casalzinho, bem rápido já se tornaram parte um do outro, assustava, mas no fundo ele gostava, queria ser capaz de fazer ela perceber mais vezes o quanto ele gostava dessa vida e dela e de como ele era feliz com ela, como nunca foi.

Tropeçou em uma garrafa de água, era engraçado como ela pegou alguns hábitos seus. Parou mais uma vez, agora em frente aos poucos livros que ela trouxe de casa. Leu alguns títulos, meio cultos, meio perdidos, meio blasés, a cara dela, alguns um pouco fantasiosos, os dragões estavam todos ali. Eram todos tão ela ao mesmo tempo em que não. Lembrou de uma vez te-la ouvido lamentar que não lia como antigamente, talvez não fosse por falta de livros. 

Na varando o ar estava mais gelado do que no quarto, estava muito bom, mas tinha certeza que ela reclamaria de frio. Ficou ali, observando a rua parada. Ouviu a porta abrindo e ela reclamando da janela aberta. Quando se virou ela estava de toalha, procurando uma calcinha. Estava linda com o cabelo todo bagunçado e pingando, disse isso a ela, que sorriu e disse que era só impressão, tinha vontade de morde-la quando dizia isso, era linda pronto e acabou.




15/3/2014
achei esses dias
pena só postar agora

terça-feira, 5 de julho de 2016

917 dias

Eu adoro o filme 500 dias com ela, não tenho dúvidas de que ele está no meu top 5 de filmes favoritos na vida. E gosto dele por uma série de motivos e acho que gosto dele muito antes de te-lo visto. É um filme que acompanhei desde o começo, antes de ser lançado eu já aguardava ansiosa por ele. Talvez seja culpa de ligeira paixão pelo Joseph Gordon-Levitt que existe desde 10 coisas que eu odeio em você, talvez pela proposta de realidade que filmes de amor sempre prometem, mas nunca cumprem. 

500 dias com ela me teve desde o começo e é um filme pra ser revisto sempre, principalmente quando a tal da bad bater, quando a ressaca de amor vier, quando terminar um namoro de muito ou pouco tempo. Não sigo minhas próprias recomendações e só fui ver esse filme agora, não sei quantas dezenas de dias depois. 

Recomendo ele pros momentos de bad não porque ele é um daqueles filmes que nos fazem chorar perdidamente, que dão aquela sensação de que nada de bom pode nos acontecer depois do fim de um relacionamento e muito menos é um daqueles motivacionais e etc. Recomendo por ele justamente mostrar como a vida funciona e que muitas vezes nos deixamos levar pelo que a gente sente e pelas interpretações que fazemos do mundo e das outras pessoas.

O filmes conta os 500 dias de Tom desde o momento em que conhece a Summer até o momento em  que a "esquece". E é um filme cheio de diálogos interessantes, coisas que a gente só percebe depois de tê-lo assistido algumas várias vezes e que fazem todo o sentido. 

A primeira vez que assisti ao filme eu tive muita raiva da Summer, achei que ela tinha usado o Tom e mentido pra ele, que na verdade era tudo um jogo e etc. Hoje eu sinto cada vez menos raiva dela, não é livre de defeitos, há momentos em que ela realmente mente como quando ela convida ele pra festa no apartamento. Mas a cada vez que assisto tenho a impressão de que o grande problema é o Tom, por todas as minhocas na cabeça dele, por todas as expectativas criadas a partir de impressões. Cada vez tenho mais certeza de que somos iguais a ele. 

Eu sou o Tom porque eu imagino coisas onde não tem, porque qualquer movimento é um sinal. Porque quando no fim só consigo ver os pontos positivos e sentir saudade, porque tendo a esquecer a parte ruim que levou à tudo aquilo. Eu sou o Tom porque tento ocupar meu tempo o máximo possível pra não pensar, mas isso só depois de passar três dias sem levantar da cama e vivendo de bolinhos e vinho. Sou o Tom porque depois de qualquer fim tenho dificuldades de acreditar de novo, mas assim como o Tom, eu sei que uma hora passa e dá pra voltar a acreditar de novo.

Mas eu também sou a Summer quando eu digo o que eu acho, quando fecho a cara em situações disconfortáveis. Sou a ela quando deixo de contar algumas coisas só pra ganhar um tempo a mais com alguém. Sou a Summer quando ela diz que um dia acordou e soube o que nunca soube com o Tom. Quando ela diz que as coisas apenas acontecem e não é culpa de ninguém.

No começo do filme o narrador nos diz que esse não é um filme de amor, mas as vezes eu tenho a impressão de que na verdade ele é sim.

domingo, 26 de junho de 2016

O problema é o medo que dá da minha alma nua encontrar a sua sempre vestida.

Eu adoro testes de Facebook, adoro mesmo. Acho um pouco bobo e cansativo, como se algumas combinações de algorítimos pudessem dizer quem eu sou ou como se a posição dos astros influenciassem minhas vontades. Porque eu não posso ser apenas minhas e ser porque eu quero ser?

Mas as vezes parece que combina com a gente, que está falando de nós mesmos. É como astrologia, palavras bonitas em frases genéricas e tudo aquilo que você quer ouvir. O filme da minha vida é sobre como eu acho problemas em tudo e eu acho mesmo, uma velha rabugenta aos 20. A nota sobre mim diz que em matéria de alma eu ando nua.

E acho que ando mesmo. Tenho esse pequeno o habito de andar com a alma exposta e deixar me enxergarem de perto. De me deixar tocar pelo outro fácil. E se ela não está totalmente nua, tenho certeza que não demoro em ir me despindo pelo caminho. Acho que no fundo as relações são pra mim um encontro de almas nuas que se enlaçam e se tocam e se mudam.

O problema é ser assim quando nem todo mundo é, quando a alma nós escondemos no peito, na boca, naquilo que não se diz, no que não é feito e a gente deixa passar, naquele olhar desviado. Quando nos ensinaram de que sentir é ruim, que o bom mesmo é ser frio, é colocar todos os sentimentos goela abaixo. Quem gosta de alguém é mais fraco, vulnerável. 

É como já dizia a raposa, a gente corre o risco de se machucar quando se deixa cativar. Acho que no fundo é isso que significa andar com a alma nua, que a gente vai se deixar cativar e que estamos dispostos a cativar quem tiver coragem de chegar mais perto.


terça-feira, 21 de junho de 2016

Se nem sei o teu nome, como posso eu estar insone?

Eu não deveria estar dizendo isso, eu devia guardar pra mim e manter em segredo, mas eu preciso me esvaziar de alguma forma, antes que exploda. Eu sinto a sua falta. A maioria dos meus amigos me condenaria por isso, não por sentir, mas por te contar e te escrever.

A minha grande questão é que sempre gostei de extravasar o que sinto nas palavras. O português sempre me serviu como canalizador de ideias, escrever me ajuda a definir o que sinto, a organizar a cabeça, colocar tudo no seu devido lugar. Colocar tudo em linhas sempre me ajudou a pensar mais claro, a perceber sentimentos e a localizar uma saída. Não torna nada mais simples e nem mais fácil, só organiza.

Escrever é uma fuga, as palavras sempre fizeram com que o sentir fosse mais leve, mesmo quando escrevo sobre coisas que nada te haver com o que sinto, mesmo quando estou só dizendo que preciso de uma alimentação melhor. E escrever aqui ajuda mais, mesmo que aqui seja aquele ambiente tão condenável da internet, onde nada é permanente e tudo é tão público. 

Pode ser narcisismo de leão, mas gosto de colocar aqui e de pensar que alguém ta lendo e pensando que escrevo bem, que meu jeito é divertido. É como jogar na loteria, sabe? Eu coloco as coisas aqui e fico torcendo pra dar certo e alguém gostar, ou não, quem sabe?

A maioria dos meus amigos me condenaria por contar isso pra você. Mas quem é você? As vezes eu acho que não sei, que você é só uma criação da minha cabeça pra ter motivo pra escrever e endereçar todas as minhas vírgulas. Você pode estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Pode ter uma explicação pra isso e pode ser a coisa mais boba do mundo. Você pode ser tão real quanto todos os trabalhos que preciso entregar, quanto imaginário como as pegadas de unicórnio no meu quintal. Nessa dicotomia talvez eu sinta sua falta só pela necessidade de sentir alguma coisa.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Meu amor por todo céu

Gosto do céu, sempre gostei. Uma imensidão azul acima de nós. Desde de que me entendo por mim gosto de deitar no chão e olhar pra cima e ver aquele azul com várias nuvens brancas servindo de enfeite. Gosto de imaginar que se esticar o braço bem alto consigo tocar o azul com as pontas dos dedos, ao mesmo tempo que me pego olhando para um vazio sem fim que poderia ser meu espelho.

Já vi muitos céus, ainda não todos os céus do espelho.as os suficientes pra elencar alguns favoritos. 

Todo mundo sabe do céu de Bauru e de como ele se mostra colorido no fim da tarde pra alegria de vários Instagrans e de como suas nuvens se projetam sobre a cidade. Demorei tanto pra aceitar esse céu, pra olhá-lo e admitir todo seu encanto, passei anos dizendo que não era nada de mais, que era só o excesso de gás que criava todas aquelas cores. Neguei um dos céus mais bonitos da vida por birra, por raiva de uma cidade que hoje é minha também. 

Em contrapartida eu sempre gostei do céu de São Paulo com suas cores cinzas e aquela faixa vermelha carbónica no fim da tarde. Gostava dele cortado pelas silhuetas de tantos prédios, o tal do skyline. Não é um céu tão bonito quanto o de Bauru, faltam algumas cores, mas tudo o que eu sinto pela cidade reflete nele e isso me basta pra achá-lo maravilhoso. 

Tem o céu do litoral também, o céu de Natal em que o sol nasce as 5:30 da manhã e só se põe quando já é muito noite. E em Fortaleza que me fascina apenas porque dorme de baixo dele um dos meus maiores amores, porque ele esconde uma rosa que só eu posso ver e que é só minha.

Por fim deitada na minha cama debaixo da janela do meu quarto vejo o melhor céu do mundo. Nem me importam as grades que minha mãe insistiu que estivessem ali ou o fato de que ele é só um quadradinho azul na minha vista toda branca. Esse céu significa tanto pra mim, esse lugarzinho debaixo da janela tem tanta memória que dali o céu parece que faz parte de mim. São as manhãs nas frestas de sol e as tarde admirando as nuvens se encaminhando lentas sabe-se lá pra onde. É um espaço tão meu e tão céu que não consigo me imaginar sem um cantinho assim, onde eu deposito todos os prazeres e dores do mundo e elas sobem em roda até o céu. 

terça-feira, 7 de junho de 2016

G R E V E

A minha Unesp está em greve, e eu não poderia estar mais de acordo com isso.

Já é a terceira em quatro anos de faculdade. O que isso significa? Significa, meu bem, que o ensino público está em colapso e que se não formos nós lá na frente defendê-lo as coisas vão ficar muito feias.

Estava falando com a minha mãe, que mesmo não sendo uma pessoa muito política sempre incentivou os filhos a serem, mas com parcimônia afinal "de sua opinião, minha querida, mas tome cuidado com os lugares em que você vai fazer isso". Esses dias, enquanto falávamos da greve e de como eu acho que deveria para toda a educação, ou melhora, ou ninguém mais estuda. Ela me perguntou o que vou fazer da vida depois que terminar a graduação, na verdade ela só queria uma desculpa pra me empurrar pro mestrado, e ai ela me disse uma coisa que estava tão certa que ta me assustando até agora: "Filha, dê um jeito de permanecer na universidade, porque se você sair, daqui pra frente, vai ser muito mais difícil de entrar".

Vocês já pararam pra pensar que do jeito que indo as coisas, vai estar mesmo? Quer dizer, vamos indo do macro pro micro: temos uma governo federal que além de golpista está governando para uma parte do Brasil, aquela parcelinha pequena dos ricos e que detêm uma parcela bem grande da renda do país. Esse governo não está preocupado com todo mundo, logo, porque ele ia querer manter as universidades públicas com qualidade? Não que todo mundo tenha acesso a universidade pública, uma das pautas da greve atual é justamente permanência estudantil. Mas você acha que esse governo ta se importando? Eu não acho.

Vamos partir pra algo mais próximo: nosso grande governador Geraldo Alckmin!!! Sendo filha de professores que sempre trabalharam na rede estadual de ensino e tendo estudado boa parte da vida nessa mesma rede, sei que não é de agora que os tucanos sucateiam a educação. Mas confesso que antes eu achava que isso era um problemas das escolas de ensino básico e médio, que a universidade era diferente, afinal, quão grandes não são os nomes da Usp e da Unicamp?

Ledo engano, três greves em quatro anos não é porque universitário é vagabundo e gosta de causar. É que, meu bem, a situação está foda. Vamos pensar apenas em mim e ver quais poderiam ser meus motivos pra querer a greve do jeito que eu quero: dos 6 professores que eu tenho esse semestre, 3 são substitutos, ou seja, não podem orientar, criar projetos de extensão e não criam vínculos com a universidade. Se eu precisar fazer qualquer trabalho que envolva edição de vídeos/imagens/som, eu terei que me virar com os programas de edição ~alternas~ da faculdade, porque a infraestrutura dos laboratórios da faculdade é bem precária e não há muito incentivo para melhorar. Se um dia precisar ficar na faculdade o dia inteiro terei que me contentar com os salgados da cantina, porque não tem RU pra todo mundo, na verdade, tem 300 refeições pra uns 6000 alunos. E isso são só algumas coisas, e essas são só as que me afetam de forma mais direta, euzinha, que tenho uma série de privilégios.

A greve está lá e não vai parar tão cedo, não até que nossas reivindicações sejam ouvidas, até que nossas demandas sejam atendidas. E eu pretendo estar lá, pra ver isso acontecer.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Mas meu bem, estamos todos remendados

Eu queria estar dormindo agora, mas existe alguma coisa na minha cabeça que não deixa. Alguma coisa dentro de mim insiste em me manter alerta, em brincar com meus sentidos. Quando foi a ultima vez disso mesmo? Talvez seja já muito tarde pra lembrar de outros términos, será que todos no fim foram tão ruins quanto esse parecer ser? Talvez também seja um pouco tarde de mais para sentir todo esse fim. Eu já não tinha concertado tudo isso?

Algumas peças insistem em se partir, não é mesmo? Sempre tem aquele pedaço que insiste em ficar. Tudo bem, faz parte da vida. Todo mundo deixa um pedaço de si comigo quando vai, e eu sempre mando uma parte de mim, "fica de lembrança". As peças nunca combinam com o restante, mas servem de estepe. Se algum outro pedaço se partir, tem um pra colocar no lugar. Vai ficar torto e remendado, mas o que somos nós além de retalhos que os outros nos deixaram?

Eu me construo no olhar do outro. Cada vez que me olha me muda um pouco, acrescenta um pouco mais de você nas minhas molduras. Quanto mais escuto, mais você vai me criando do jeito que me imagina. Sou toda sua, da cabeça aos pés. Toda montada a partir de outras vozes e de outras partes. Eu estou do jeito que você sempre quis.

E quando você for, quando você vai, eu tiro você de mim e me volto ao que sempre fui. Uma parte você nunca leva. Não sei que parte, mas algo seu fica em mim e alguma coisa minha fica em você, Não tem como ser diferente, por favor, não insista.


sábado, 4 de junho de 2016

Animals

So if I run it's not enough 
You're still in my head 
Forever stuck 
So you can do what you wanna do 
I love your lies, I'll eat 'em up 
But don't deny the animal 
That comes alive when I'm inside you
(Animals - Maroon 5)

Gosto de ver o sangue manchando seus dentes. Debruçado na pia e arfando. Você enche a boca e cospe. Gosto de como seu sangue mancha a pia branca do meu banheiro e escorre pelo ralo. Há sangue na sua boca e seus olhos parecem inchados. É errada essa vontade de te beijar a boca cheia de sangue?

Você começou mordendo meu pescoço e apertando minha bunda, perguntou se podia usar a força e esqueceu que quando a gente começa não sabe parar com as brincadeiras sádicas. Tem sangue na sua camiseta branca, escorrendo pelo pescoço, em linhas nas suas costas. Mancham sua cueca azul e o piso do meu banheiro.

Me olho no espelho e vejo meu rímel borrado, a boca vermelha, eu usei batom ontem a noite? O gosto da vodka ainda está aqui, meu hálito ainda alcoolizado e meus lábios doloridos. Será que se eu lamber as suas costas arde?

Existem flash na minha cabeça, mas eu não sei mais o que é realidade. São muitos borrões e o vermelho é a cor predominante, junto com o branco da sua pele e o azul dos lençóis, ou eles também eram vermelhos?

Você me olha pelo espelho, parece que não dorme há dias, suas noites tem sido tranquilas? Meu quarto parece atacado por animais. Roupas por todos os lados e coisas espalhadas pelo chão. De onde veio tudo isso? Mais um passo e minhas pernas doem, há marcas nas minhas coxas e por todo meu corpo, uma constante lembrança de você em mim.

De onde veio toda essa fúria? Essa necessidade de força bruta, a ânsia por prazer e dor. O que as paredes me diriam sobre nós? Que você é tão bicho quanto eu.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Chove, mas como chove

Hoje eu dei o maior fodasse pra natureza e tomei um banho demorado, fiquei bem mais tempo sentindo a água quente do que deveria. Hoje eu tomei o maior fodasse da natureza que me encharcou da cabeça aos pés de tanta chuva fria. E que chuva não é mesmo?

Aliás, essa noite choveu? Tive a impressão de sonhar com chuva, daquelas bem pesadas que você sente o barulho da pressão que tanta água faz no telhado. Choveu, mas não trovejou, foi só água caindo e lavando tudo, inclusive a mim mesma que mais tarde fiquei toda cheia de chuva e to até agora com as meias no varal.

Mas ainda gosto de tomar chuva, mesmo no frio, mesmo que depois eu tenha que ficar me encolhendo pra achar um canto seco em mim mesma, mesmo correndo o risco de toda gripe voltar. Gosto da água fria escorrendo pelos meus cabelos e entrando por dentro da manga da minha jaqueta. É frio, mas reanima, lembra cada terminação nervosa que é preciso sentir. 

Gosto de tomar chuva porque quando chego em casa ensopada e tremendo inteira é só tirar a roupa, entrar na chuva quente do chuveiro e agradecer o mundo pela eletricidade. 

quarta-feira, 1 de junho de 2016

A tristeza pegou minha mão, dançamos

Sempre fui mais forte que você, você sabe disso, todo mundo sabe. Mas não sou capaz de te evitar, que mesmo quando atrasa sempre chega. Te recebo como uma velha amiga, porque lutar contra você eu sei que não dá certo e que só machuca.

Eu nem sei teu nome direito, mas mesmo assim conheço todas as tuas entranhas, todos os desvios e sei quando você termina. Tudo bem, não quero te apressar, vamos em partes, do começo com essa dorzinha embaixo do peito e a sensação de vazio na vida. Vamos começar com esse medo de acordar, esse peso das cobertas que me defendem do mundo e a constante vontade de ficar ali pra sempre. Mas vamos com calma, ok? Não me atropele como fez das outras vezes. Me deixe sentir esse vazio, essa dor que me impede de respirar.

Não suba nos meus ombros como antes, é mais difícil lidar com você quando vem de uma vez. Venha em partes, você conhece meus limites. Há quem prefira que você venha com tudo, que pule em cima e faça de gato e sapato, que tire o ar como uma banheira de água fria pra depois sair de mansinho. Por favor, não faça isso comigo, você sabe o que aconteceu na última vez e não vamos repetir o feito. Prefiro que venha como tem vindo, devagar, que me avise da sua chegada pra eu estar preparada e não colocar ninguém em risco.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Reencontro - essa sou eu voltando a escrever histórinhas

Não era para termos nos encontrado. ela não queria me ver. Eu não queria vê-la, mesmo que sentisse muito a sua falta. Malditos sejam os amigos em comum que disseram para mim que ela não viria, disseram pra ela que eu não veria. E agora estamos aqui nessa situação estranha.

O fim, o nosso fim, não foi dramático e nem barulhento. Nem foi um grande fim, só decidimos que não dava mais, que precisávamos de um tempo, mas você sabe o que dizem sobre tempos, é só uma forma de amenizar o corte. Não nos falávamos fazia mais de um mês, não era algo difícil, morávamos longe, trabalhávamos longe, só os amigos que eram iguais, mas ainda tínhamos nossas panelinhas.

Fiquei em choque quando a vi e ela não fez questão de disfarçar o espanto ao me ver e me cumprimentar. Estava tão linda, cortou o cabelo, gostava muito dele comprido, mas curto parecia combinar muito mais com ela. Me arrependi um pouco da bermuda e do chinelo, poderia ter caprichado um pouco mais.

Não nos falamos a noite toda, evitávamos mutuamente apesar de todas as insistências vinda dos outros, "vocês são adultos", "ainda dá pra ser amigos", "vocês vão ficar pra sempre sem conversar?", nós vamos conversar, só não sabia se era esse mesmo o momento.

Agora ela está sentada no alto da escada, sozinha com um copo em uma mão e o celular na outra. E eu estou bebendo cerveja e tomando coragem pra subir e falar com ela. Com o pé no primeiro degrau espero algum sinal de encorajamento, ela só me sorri complacente. Sinto olhares nas minhas costas quando começo a subir.

- Não achei que estaria aqui, se soubesse não teria vindo. - o que não é mentira, eu realmente teria ficado em casa se soubesse.

- Tudo bem, não sabia de você também.

- Mas e ai? Gostei do cabelo novo.

- Obrigada. Foi uma comemoração. Fui promovida e cortei o cabelo pra celebrar a mudança.

- Parabéns! Eu sabia que ia conseguir. - e sabia mesmo, ela já falava sobre isso quando a gente namorava, nunca duvidei que conseguiria. Se ela quiser conquista o mundo e nem percebe.

- Obrigada.

Ficamos no silêncio. Ela olha pros pés procurando uma saída pro climão que ficou. Será que falar de tempo é ruim? O cheiro dela está todo ao meu redor, sinto falta desse cheiro nos meus lençóis, nas roupas, misturado ao cheiro de café pela manhã.

- Sinto sua falta.

-Sinto sua falta.

Dizemos ao mesmo tempo e ficamos nos encarando na esperança de que alguma mágica resolva nossa vida.

- Pensei em te ligar, mas você sabe... - ela ainda encara os pés, quem sabe tem escondido dentro do tênis um gnomo que vai salvar dessa situação.

- Eu também pensei, mas não quis atrapalhar.

- Você não atrapalha. - Mais uma vez aquele sorriso complacente que não sei se é apenas gentileza ou se tem algo escondido naquela boca.

Olho minhas mãos vazias e não tenho nada pra falar. Queria abraça-la, dizer que sinto saudade, que quero voltar a viver na vida dela, acordar com ela em mim e de discutir pra ver o filme. Mas ao mesmo tempo que não queria nada disso, gostava do meu café sem açúcar, da minha cama inteira vazia, de chegar em casa e encontrar apenas o silêncio...

- Eu to bem assim - ela me disse sem que eu perguntasse e sorriu como antes, gentil como é da sua natureza.

- Eu também.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Venha logo, ok?


Hoje eu queria que você viesse logo, que levasse tudo o que ficou pra trás e já não tem mais como deixar por aqui. Queria que viesse ver como está tudo depois que você se foi. Não vou mentir que mudou bastante, talvez esteja com mais espaço de sobra e as cores ficaram um pouco mais escuras. Nada que não seja difícil de arrumar, mas você sabe, as cores escuras sempre foram do meu agrado.
 
Queria que viesse logo, que tirasse o que te pertence. Inclusive aquelas partes que você esqueceu em mim, lembra? Aquelas noite sem sono em que ficávamos nos escuro conversando e você me dizendo que tinha aula logo cedo e eu não sendo capaz de parar de rir, você dizia que era uma risada tão gostosa. Leve essas partes também, ok?

Não se esqueça das noites em claro em que observei você dormir e tudo o que eu era capaz de pensar era no que eu estava fazendo e como queria sair correndo pela porta deixando apenas um bilhete, "foi bom, desculpa por tudo". Claro que nunca fui embora, como você deve ter percebido. Em vez disso me enrolava nos seus braços e me forçava um abraço, "me ama mais um pouco só pra eu ter certeza que não devo partir". Claro que o próximo movimento era você me apertar mais perto do peito e beijar o topo da minha cabeça. Leve esses momentos, todos eles, desses não quero guardar recordação.

Mas deixe os dias de sol no parque, aquele com o pique nique cheio de formigas e também aquele em que rodamos a cidade pra achar uma coxinha. Deixe os dias de preguiça na cama, os dias de muita chuva e nossa maratona de série. Deixe a pipoca pós sexo e também aqueles dias em que eu tinha vergonha de sair do seu quarto quando todos da casa estavam acordados. 

Queria que viesse logo pra levar tudo embora, pra gente dividir as lembranças e não ter mais motivo pra se encontrar

segunda-feira, 16 de maio de 2016

ela segurou a mão dele com força
"você está louca?" ele perguntou observando com atenção o olhar aflito dela.
ela mordeu o lábio inferior e procurou respostas nos pés, ergueu pra ele olhos assustados "talvez", ela disse e ele não expressou resposta, "isso é ruim?" a voz suave com medo de ser rejeitada.
"por mim tudo bem" - ele sorriu e apertou a mão dela como um sinal, continue.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

quem mandou ter a lua em signo de água

hoje tomei um remédio para dormir. é a primeira vez que faço isso e não é o momento que antecede uma viagem de 6 horas dentro de um ônibus que para em todas as cidades daqui até Jundiaí. não me orgulho de ter tomado. na verdade me dá até um pouco de vergonha. significa que não consigo lidar comigo mesma e preciso desse artificio, desse mecanismo sintético que faz meus olhos pesarem e a cabeça desligar.

fique tranquilo, não é culpa sua. estou só te contanto porque já estou habituada a te contar minha vida, meus dramas, as falhas e os amores. são só mais alguns hábitos. hábitos são mais difíceis de largar do que drogas, você sabe, é o que todos dizem. não é culpa sua, você sabe. minha cabeça nunca foi muito normal, são várias minhocas aqui dentro criando expectativas e palavras que não sei de onde saíram. talvez tudo aqui dentro funcione rápido demais, não consigo controlar. você sabe, tenho mania de controle, mesmo que quando a decisão é minha eu prefira não decidir.

minha cabeça está mais agitada que o normal. não sei se te contei, mas me mudo hoje. lembra quando te falei disso? que talvez eu mudasse, que talvez eu deixasse esse lugar e fosse pra outras áreas. não sei se é a melhor decisão que já tomei. mas você sabe, as vezes gosto de jogar no escuro e torcer pra dar certo. sempre fui meio assim, vamos ver o que o próximo passo me traz. talvez seja uma queda ou mais um degrauzinho na escada. torça para que eu não tropece.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

só mais uns buracos na vida

você se foi e me deixou em um vazio que não sei como preencher, deixou uma cratera em mim que tem dias que parece inundada de água e em outros está mais seca que o deserto de sal. as vezes é um buraco dolorido e cheio de sangue que insiste em transbordar, em outras é só mais um dos muitos buracos que alguém já deixou em mim, só mais uma das muitas partidas da minha vida.

desde que você se foi as coisas mudaram muito, durmo todas as noites em casa, as vezes sozinha, as vezes nem tanto. minha comida continua igual, há dias bons e dias bem ruins. meu quarto pra variar está bagunçado, mas consegui adicionar novas lembranças nos espaços de onde você tirou suas memórias. tirei algumas coisas da poeira da vida e comecei a usar, como as lentes de contato que você achava tão desnecessárias.

todos os dias eu percebo que não queria que fosse de outra forma. talvez quisesse que demorasse mais um pouco, que a vida se organizasse e que as dúvidas fossem embora. mas nada some sem deixar um rastro de saudade, por que com você seria diferente?

a saudade tem sido um monstro bem estranho na minha vida. as vezes ele vem e me assusta inteira, quase me escondo debaixo da cama pra fugir e abraço aquele ursinho que você nunca me deu. as vezes ele só senta do meu lado e me deixa acariciar a sua pelagem macia. tem dias que acho que saudade mata, em outros imagino o quanto ela pode ser reconfortante. nesse momento ela me estrangula e no outro tomamos chá de cidreira juntas e falamos de passado.