domingo, 17 de julho de 2016

Água e gelo

Chovia tanto naquela tarde que parecia que o céu inteiro estava triste. Era aquela chuva chata, gelada e estranha, que não tem fim e consegue molhar até a alma.

Ela estava sentada na minha frente em um daqueles quiosques à beira mar. Não sei bem porque a gente estava naquele lugar com tantos outros lugares mais quentes e secos. Ela tinha o olhar distante de sempre, procurava alguma coisa no mar que eu não era capaz de conhecer. 

Era um silêncio áspero, igual a todos os que pareciam existir entre a gente nos último meses. Quado comecei a falar não consegui me conter e tudo saiu como um dilúvio. Precisamos terminar, essa relação me faz mal, me suga as forças e não sei mais quem eu sou. Você me boicota, me azucrina, arranha. Tudo o que eu faço está errado e não é suficiente. Eu te amo, mas não posso mais ficar com você. 

Ela me encarou com olhos de geleira, percebi que eu estava tremendo, depois voltou a procurar no mar aquilo que nunca vou saber o que é. E então duas palavras me cortaram o coração. Tudo bem. Uma aceitação tão rápida, tão simples, tão diferente do que a gente era. Quis gritar, quis xingar, quis bater o punho na mesa e cobrar um explicação. Fiquei em silêncio.

- Você queria que eu estivesse chorando.

Não era uma pergunta, mas eu ainda sim respondi na minha cabeça: é, eu queria.

Os olhos de geleira voltaram e nem uma calota havia se soltado. Ela não chorou, mas era uma pedra de gelo pronta pra me queimar ao menor toque. Disse que concordava, não tava funcionando, a gente não combinava. Até no fim eramos opostos: ela não me amava, mas ainda sim continuaria comigo.

Levantei, me despedi e saí. Espera, eu to de carro, te levo em casa. Não precisa, gosto de andar na chuva. Gosto de andar na chuva, mas a água que escorria no meu rosto tinha um gosto salgado.





17/10/2015

Nenhum comentário: