sábado, 24 de maio de 2014

O início de tudo

Nós nem tínhamos conversado direito, talvez nem nos cumprimentado. Mas ele sorriu pra mim e por um segundo o meu mundo se resumiu naquele sorriso.

Era só mais um dia como todos os outros, tirando que era fim de ano e todos estavam correndo com os trabalhos e as provas. Admito que estava tranquila, tudo já estava adiantado e eu gozava de ligeiro conforto só me faltavam as provas, mas não seria difícil, apesar de tentar parecer que não me importava, sempre tentei ser uma boa aluna. 

Porém ainda faltava um maldito trabalho pra terminar, coisa bem pequena, se não me engano era só a conclusão de alguma coisa sobre a influência das teorias freudianas na sociedade contemporânea. Fui pra casa de um amigo pra terminar o trabalho com o resto do grupo e passamos lá a tarde toda escrevendo sobre Freud e a sociedade e como as pessoas sofrem de diversos transtornos que esse tal psicanalista tentou explicar.

Estávamos no finzinho das 30 páginas e fizemos uma pausa, haviam cérebros dando tilti e a fome tava forte. Na cozinha estava um outro morador da casa, tinha acabado de chegar da aula e estava jantando. O dono da casa fez lanches para todos e nos sentamos na sala para comer, o outro morador depois de jantar sentou-se com a gente, na minha frente e entrou na nossa conversa.

Falávamos sobre qualquer coisa e provavelmente coisa alguma, e ele, o outro morador, me olhava de tempos em tempos, sempre que eu falava e quando ele falava. Mas não apenas olhava por educação, olhava com profundidade, de um jeito que me deixava vermelha e me fazia olhar pra baixo e sorrir e olhá-lo novamente e ver que ele ainda me olhava e e me deixava ainda mais vermelha. 

Nem é preciso dizer que o trabalho não chegou a ser concluído naquele dia, conversamos até escurecer e infelizmente precisei ir pra casa, poderia passar o resto da noite perto dele e sorrindo toda vez que meus olhos se encontravam com os dele. Porém por destino ou apenas porque nossos olhos se encontravam e de alguma forma eles combinavam, ele se ofereceu para me levar em casa, não era tão tarde, não era perigoso, mas ele insistiu. 

Fomos andando lado a lado e conversando, "vai na festa na semana que vem?" "nem vou, não comprei", aquela conversa que na verdade é um flerte disfarçado. Não era longe, nossas casas, e eu desejei que o caminho fosse mais longo. 

Em casa, quando nos despedimos talvez ele tenha me roubado um beijo, talvez eu tenha oferecido um beijo, só sei que desde então nunca mais paramos de nos beijar.

sábado, 3 de maio de 2014

Brincadeira de criança

Duas postagens no mesmo dia é quase um milagre de páscoa fora de época, mas precisava escrever a alegria que eu estou sentindo ao ouvir minha vizinha, de provavelmente uns 5 anos, brincando. Não sou fã de crianças nem nada, aliás gosto de tomar distância delas por uma quentão de segurança para ambas as partes, porém está tão gostoso ouvi-la brincar e inventar personagens, cantando e correndo que me deu uma saudade tão grande de quando eu era criança e brincava assim, sozinha, mas acompanhada de tantos personagens que parecia até melhor do que se eu tivesse mais crianças com quem brincar. O mais engraçado é que estou ouvindo ela cantar e rindo junto igual criança. Enfim, só queria contar isso, preguiça e sem ideia pra algo melhor.

Eles vão e fico meio órfã

Não sei dizer se era um sonho ou só uma vontade muito grande, mas sempre quis morar fora, em outra cidade, ter minha casa e nunca mais arrumar meu quarto. Talvez essa vontade tenha sido influência da minha tia, marcou minha infância ter ela sempre indo e vindo da casa da minha vó, de ir buscá-la na rodoviária e depois ir deixá-la lá para voltar pra Assis, era sempre de domingo e eu sempre ia dormir chorando. A bem da verdade é que não sei porque eu chorava tanto, claro que era a minha tia favorita e ela só vinha nas férias e todo mundo adorava quando ela vinha - pouquissímas pessoas tem a sorte de ter a tia que eu tenho e na infância então era melhor ainda -, mas não sei se era só por isso. Tenho um problema muito sério com despedidas, não gosto de dizer adeus e dar aquele abraço de "até logo e se cuida", me machuca tanto, mas é só quando eu gosto muito, talvez seja mesmo só por saudade que eu chorava.

Essas daí, essas despedidas todas é que são a pior parte de morar longe. Lembro que minha tia sempre chorava quando ia embora e eu choro também, por dentro e por fora, quando venho, quando vou, é estranho não saber mais a diferença entre ir e voltar.

Porém consigo pensar em um momento em que fica bem pior: quando eles vão, principalmente quando meus pais vão. Quando vão embora é sempre pior, parece que estou perdendo um pedaço de mim que nunca mais volta. Machuca quando vão e me deixam, fica um sentimento assim meio de solidão e ausência, parece que não voltarão nunca e eu fico com esse sentimento de que fiquei meio órfã.