terça-feira, 22 de julho de 2014

Quase lá

Há alguns anos, não sei se muitos ou se poucos, talvez eu ainda fosse criança, eu tinha o sonho de ir morar sozinha, de ir embora pra bem longe, sair de casa e ganhar o  mundo. Talvez esse sentimento fosse fruto do meu espírito meio rebelde sem causa, meio anarquista. Talvez seja resultado da grande admiração que eu sentia pela irmã da minha mãe que eu só via nas férias, que morava longe e era tão diferente e mais legal que todo mundo que eu conhecia. 

Na minha cabecinha de sei lá quantos anos eu sairia de casa pra estudar e estaria tudo pronto me esperando. Eu alugaria um apartamento bem apertadinho e aconchegante, seria um daqueles sem muitas divisões. Eu teria muitas plantas espalhadas por ele, a maioria temperos e ervas. De tarde bateria sol na minha cama e eu sentaria lá todos os dias para ler um livro e tomar uma xícara de chá. Eu teria um cachorro, um não muito grande, um parecido com a Sari, parecido comigo, que gosta de fingir que é independente, mas que adora um afago. 

Além de ter esse meu cantinho todo lindo e montadinho, eu também teria um emprego legal, desses bem descolados e criativos, mas seria só uma preparação para uma carreira fabulosa como escritora. Eu também teria um namorado lindo e passaríamos a noite bebendo vinho e nos fins de semana nossos amigos dariam pequenas festas e seria divertido.

Mas ai a gente cresce e descobre que nada é simples nessa vida e que sair de casa é só o primeiro dos grandes desafios que nos esperam. A gente descobre que o mundo não está pronto para nenhum de nós e que ele nunca vai estar, que no fundo é tudo uma grande adaptação. Descobre que quando a gente é criança tudo parece mais fácil e que éramos bobos por querer virar adulto, tão mais cheios de problemas, tão mais complicados e ansiosos. E é incrível como os anos vão passando cada vez mais rápido, dando a estranha sensação de que o tempo está ficando mais curto, e não está mesmo? os dias estão longos, mas o ano está curto, 365 dias não é mais suficiente, e a cada ano que passa parece que fazemos cada vez menos. O tempo está passando tão rápido que quando menos esperamos trocamos o um pelo dois, e começamos a refletir sobre como seria quando a gente chegasse até aqui.

Não vou mentir e dizer que não tenho nada do que eu imaginava, tenho meus amigos nos fins de semana e nos dias da semana, como uma família. O namorado lindo é ainda mais lindo do que eu esperava. As noites de vinho estão ai, assim como as de cerveja, as de cachaça, as de cafézinho, mesmo que eu seja a mais ausente. Infelizmente, ou felizmente, chego aos meus vinte anos bem diferente do que eu imaginei que chegaria, mas acho que posso colocar todos esses planos como meta pra quando fizer trinta, e ainda acrescentar um carro só meu e não emprestado.