quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Parece que foi ontem

Estava no ônibus voltando pra casa quando percebi que hoje faz um ano que me mudei para Bauru, achei a situação bem engraçada. Há um ano eu estava indo para Bauru para ficar lá, pra não voltar, pra viver e sentir a cidade. E agora, um ano depois estou fazendo o caminho oposto, mas não para ficar em Jundiaí, para viver na barra da saia da mãe. Volto para passar o que estão chamando de “férias”, mas não vejo como existem férias de duas semanas, de qualquer forma volto por um tempo, pra passar as férias na casa dos meus pais. Já pensou em que momento da sua vida você diria que ia pra casa dos pais passar as férias, porque lá já não é mais a sua casa? É estranho, faz um ano que moro nessa cidade que hoje chamo de minha, mas como eu demorei em aceitá-la! Tanto que eu chorei para ir embora, tanto que eu pensei em desistir e voltar pra saia da minha mãe! Ah como eu resisti a você, Bauru! Acho que para poucas pessoas esse corte do cordão umbilical foi tão difícil, tão doloroso e ainda em menos pessoas tenham gerado um apelido que não pegou.

O começo foi tão difícil, mas eu recebi um apoio tão grande das pessoas que me acolheram, que deram um teto pra mim e querendo ou não, me deram um colo em todos os meus choros. Alguns mais outros menos, mas todos tinham um jeito de mostrar a cidade a quem estava chegando, cada um do seu jeito. Eles fizeram com que eu entendesse melhor algumas coisas da vida, sobre convivência e independência, me fizeram rever ideias sobre família e cuidado. Estamos todos nós no mesmo barco.

E a faculdade? Ah, a faculdade é demais, poucos sabem qual é o gostinho de lutar por alguma coisa e alcançar. Não serei boba a ponto de dizer que é a Unesp é a melhor faculdade do mundo e o meu curso é o mais legal e mais maneiro que existe. Sejamos realistas, tem seus inúmeros defeitos e falhas, mas ainda sim é um lugar incrível, com pessoas e ideias maravilhosas e isso com certeza supera qualquer outra faculdade, qualquer outra instituição, faz desse lugar mágico. Foi pouco tempo, mas deu pra ouvir as cigarras cantando no verão e o vento fazendo barulho entre as frestas no inverno e de como a Unesp é um lugar a parte da cidade, com um clima particular e só dela.

Mas o melhor desse ano foram as pessoas, todas elas me ensinaram alguma coisa, o que não fazer e o que fazer, de certa forma o certo e o errado, não que exista certo ou errado em qualquer coisa. Foi tão bom ter crescido ao lado delas, ter acompanhado o meu desenvolvimento e o delas, participado de suas vidas, conquistas. Eu tenho uma família inteira em Bauru, por quem eu sofro de saudade quando estou longe. Acho que é por causa deles que quando a formatura chegar será tão triste, pensar que não conviverei mais tanto tempo com eles, talvez nem conviva! Sofro por antecedência.

E como falar de um ano de Unesp Bauru e não falar dele? Era o que eu não esperava desse ano e depois que o encontrei pareceu que eu o esperei a minha vida toda. Qualquer coisa que eu escreva vai parecer clichê e etc etc, mas é verdade quando eu digo que me faltam palavras para descrever o bem que me faz e a felicidade que eu sinto quando vejo ele sorrindo.

Foi um bom ano, repleto de sensações e sentimentos e talvez por isso tenho sido tão mágico, ele foi cheio e intenso. Espero isso dos próximos, intensos e cheios. E espero passar por eles ao lado das pessoas maravilhosas que conheci, que eu carinhosamente chamo de família de lá e de amor.


(texto escrito no ônibus no dia 25/02)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sobre pensamentos e privilégios que demoramos para entender

Pensei em escrever sobre várias coisas hoje, várias coisas mesmo, e também várias possibilidades. O que talvez eu escreva aqui posso postar no meu facebook, não posto por dois motivos, o primeiro é que gosto daqui como meio de me expressar, talvez por segurança, mesmo motivo pelo qual é mais fácil discutir por facebook do que pessoalmente, mas também minha ideia de que aqui é o meu espaço, tudo aqui tem a minha cara e o meu jeito e por isso acho que faz muito mais sentido escrever aqui do que lá, e também porque eu acho que acaba sendo muito mais uma reflexão minha do que qualquer outra coisa. O segundo ponto é poucos vão ler lá, poucos vão ler aqui, qual a diferença?

Hoje foi um dia em que li muita merda, mas muita mesmo. Concordo que cada um tem a sua opinião e que todos devem respeitar, o que não sou capaz de compreender é que pessoas sejam tão ignorantes a ponto de sair falando milhões de coisas sem um mínimo de conhecimento. Entendo que muito disso é consequência de criação, o que eu sou hoje em muito é resultado da educação que meus pais me deram, mas não sou capaz de compreender como alguém vai para uma universidade pública, ou mesmo que fosse uma particular, com um pensamento tão fechado e sem o menor interesse de sair da "bolha".

Falando sobre mim, entrei na faculdade com a cabeça muito diferente da que eu tenho agora, as ideias eram mais ou menos parecidas, mas faltava embasamento, faltava conhecimento para sair falando, na verdade ainda falta, não tenho segurança para falar. A faculdade me mudou muito, me fez crescer em vários aspectos, a pessoa que sou hoje sempre existiu, mas veio a tona na faculdade. Mas é muito fácil para mim ser pacifista, tentar me adaptar ao estilo "vida simples", ao não-consumismo, a tentar ao máximo levar uma vida saudável e ecológica, a pensar nos outros antes de pensar em mim, a tentar expulsar todo o mal de mim e ser uma pessoa boa. 

É fácil para mim porque eu tive escolhas e oportunidades, não sofro com nenhum tipo de preconceito, sou branca, hétero, de classe média e com uma família estruturada. Mas onde isso me dá o direito de apontar na cara do outro que não teve o que eu tive e dizer que a culpa é dele, que se ele está onde está porque quis, que foi uma escolha, quando na verdade ele não teve nenhuma escolha. Ninguém escolhe ser pobre e passar fome, ninguém escolhe estar nas ruas pedindo, roubando ou matando, é tudo consequência dessa sociedade conservadora e preconceituosa que ao invés de defender a minorias, só sabe chutar cachorro morto. É muito fácil dizer que a culpa é do marginal, quando se está seguro dentro da sua casa, com seus direitos garantidos e fumando a maconha que o tal do marginal te vendeu. 

Enfim, acho que me dispersei, mas acho que é bem isso.