terça-feira, 27 de dezembro de 2016

as vezes fico meio triste sem motivo nenhum

Parece que não, ou pelo menos eu tento fazer parecer que não, mas eu sou tão insegura que as vezes nem sei. Carrego minha insegurança nos ombros como uma criança e faço todas as vontades dela, se ela esperneia e me pede doces, eu dou quantos ela quiser. E se ela me diz que hoje não ta bom e que tenho que ficar em casa cuidando dela eu fico, mesmo que tudo que eu queria era sair e me queimar de sol.

Ela sabe que to sempre aqui pra ela e tem dias que nossa, ela exige de mim mais do que consigo aguentar e me vejo obrigada a ceder e aceitar que não sou tudo que acreditava ser e que não vou conseguir. São os dias em que sem motivo nenhum eu fico triste e quero sumir. Aqueles em que o mundo vem parecendo um torpedo e quase me acerta no meio do estômago.

Levo a insegurança nos ombros e as vezes ela puxa meu cabelo e sussurra no meu ouvido "você não é boa o suficinete", e isso basta pra que eu não me sinta mesmo e que aquele sentimento de não ser o bastante e de estar incomodando se apodera de mim. Aí vem as redes sociais e servem de alimento pra insegurança que fica cada hora mais forte. 

Só espero que ela caia logo no sono.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

um dia daqueles bem meio médio

As vezes, e veja bem que eu disse as vezes, eu queria sumir no sentido mais puro da palavra. Sumir, deixar de existir, desaparecer como um passe de mágica. As vezes dá essa vontade de ir embora também, de juntar tudo em uma malinha de mão e ir sei lá pra onde, pra lugar nenhum, pra qualquer lugar, pra onde tenha sol batendo na janela no fim da tarde e esquentando meu colchão.

Tem dias que eu queria sumir, cavar um buraco bem fundo no chão e me enterrar ali pra sempre e ficar por ali debaixo da terra, no escuro esperando tudo passar. Nesses dias dá vontade de ficar trancada no quarto e fingir que não existo, que não tem mais ninguém. São dias em que eu dormiria o dia todo só pra não precisar sair. Dá até uma vontadinha de inventar uma dor de barriga, uma garganta ruim pra não ter que sair da cama. 

Hoje eu inventei todas as desculpas do mundo pra não ter que levantar, adiei a soneca o máximo possível pra não ser obrigada a abrir a janela e encarar esse dia. Um dia que era igual a qualquer outro dia, que tinha tudo pra ser bem comum e normal, que não tinha nada de especial, que era só um dia, mas que algo em mim fez parecer o pior dia pra acordar.

Enrolei pra levantar, enrolei pra sair do quarto. Só ousei abrir a porta quando a fome gritou dentro de mim e era isso ou ter uma crise hipoglicêmica. Não queria ver ninguém, só queria me afundar em algum lugar e ficar lá por um tempo. Não queria ter que conversar e responder que tava tudo bem, porque hoje não tava e eu não tinha como explicar o porque de não estar tudo bem, eu ainda não sei porque não está tudo bem.

Dias como hoje despertam em mim uma solidão sem tamanho e é a maior contradição do universo. Porque eu quero ficar sozinha, quero todo mundo bem longe, quero que esqueçam de mim e quem eu sou e vou afastando quem começa a querer chegar muito perto. E é nessas horas que tudo que eu queria é um abraço daqueles que demoram pra acabar e que parecem que deixam as coisas mais quentinhas na vida. Mas como nesses dias eu não quero gente perto fica difícil ter um abraço.

sábado, 19 de novembro de 2016

as palavras me libertam de mim mesma

hoje eu fumei três cigarros seguidos. você sabe que eu não fumo, pelo menos não normalmente. mas hoje eu tava com um vazio tão grande que precisava de qualquer coisa que me preenchesse sem que mais ninguém se machucasse. você sabe que tenho mania de colocar os outros no meio do meu caos e que vez ou outra alguém acaba se machucando. muita vezes eu mesma.

hoje eu fumei três cigarros seguidos porque era tudo o que eu tinha. fumei porque não via outra saída. tinha só uma eterna vontade de me perder em alguma coisa. se não posso mais me perder no seu cheiro, que seja no cheiro de nicotina que agora está impregnado nas minhas roupas. 

fumei hoje porque queria sentir qualquer coisa que não fosse esse vazio constante, essa impressão de que o mundo inteiro está indo e eu ficando. tive vontade de sair andando na rua a esmo também, mas acho que tenho mais medo de sair andando meia noite do que de acabar com o pouco que resta dos meus pulmões. 

fumei hoje porque eu queria qualquer coisa que fizesse com que eu me sentisse um pouco mais viva. se não pode ser com você tocando meu corpo, que seja com o vento frio da varanda e o toque áspero do papel na minha boca. 

tenho estado perdida por tanto tempo que acho que esqueci de como faz pra me encontrar. tô buscando umas saídas alternativas, nada que valha muito a pena, talvez qualquer coisa que tire esse gosto amargo da garganta e o salgado dos olhos. queria me perder de alguma forma, queria alguma coisa que me ajudasse a dormir sem pensar muito. queria qualquer coisa que me fizesse acordar sem sentir o mundo pesando nos cobertores e tornasse fácil o dia seguinte, sem a culpa de ter arrastado alguém pra dentro disso tudo.

hoje eu fumei três cigarros seguidos porque não sei o que aconteceu entre mim e você, porque de uma forma ou de outra ainda sigo pensando onde foi que eu errei.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

contradição

Tem dias, e são quase todos os dias, que a única coisa que eu quero é que tudo passe. Esse é um sentimento comum em mim, um desejo ardente de que tudo acabe de uma vez. Talvez uma certa apatia em relação ao mundo, uma insensibilidade ao que acontece ao redor. Uma constante vontade de não sentir, de estabilizar a vida em modo avião e não oscilar em mais nada.

Sempre vivi na impressão de que estou passando apática pela vida, que as coisas estão acontecendo e eu não consigo acompanhar o ritmo. As vezes tenho a impressão de que parei no tempo em algum momento distante e que não consigo definir. Finquei meus pés em um espaço e lá estou até hoje, a vida passa por mim e nem consigo ver o que ta acontecendo.

Queria pelo menos saber onde foi que eu parei, quem sabe não dá pra voltar lá e me fazer andar de novo.

Engraçado pensar que essa é a sensação que existe em mim ao mesmo tempo em que vivo em um constante atropelar de sentimentos e sensações, em não me permitir parar e respirar. Ansiedade define cada segundo dos meus dias, ou estou aguardando o futuro e esqueço o que tá em volta. Ou então fico olhando pro passado e do mesmo jeito ignoro o já.

Parei em algum ponto em que nada ta sendo certo.

domingo, 30 de outubro de 2016

de.sa.pe.go

Quem me ouve falando sobre cabelo curto não imagina a vitória que foi cortar o meu. Quem me ouvia aconselhando amigas: "corta, você não vai se arrepender", "vai ser maravilhoso", "é uma libertação incrível", não imagina as prisões que criei dentro de mim.

Eu gosto dele do jeito que ele está agora, na altura dos meus ombros, talvez mais curto. Gosto porque dizem que tem personalidade, que combina comigo, que ta fofinho igual eu. Gosto porque é prático, que seca rápido, pra lavar são dois palitos e ainda economizo no shampoo.

Mas a decisão levou pelo menos alguns meses de reflexão, de pesquisa e de será que eu quero fazer isso mesmo? Fiquei muito tempo olhando pro espelho e passando os dedos pelo meu cabelo, prendendo, soltando, analisando cada curva que fazia. Era difícil imaginá-lo curto depois de tanto tempo, parecia que cortando eu perderia uma parte de mim.

Mas se parar para pensar de maneira mais racional eu realmente perdi uma parte de mim. Em cada pedaço de cabelo cortado tinha uma partizinha do meu DNA, que é a essência biológica de tudo o que eu sou. Ao mesmo tempo em que cada parte também era uma realidade minha, uma história que passou e que estava em mim. Quando cortei, tudo se foi.

Levei muito tempo pra decidir se queria mesmo me livrar de tudo isso, se queria cortar fora tantas coisas que servem de metáfora para cortar o cabelo. Gosto de pensar que aplico todas essas metáforas na minha decisão de cortar o que foi alguns anos de cuidado e dedicação com o cabelinho.

Cortar é sempre um ato de desapego e acho que é isso que tenho tentando colocar dentro de mim, um desapego de tudo que me cerca em uma tentativa de me bastar em mim mesma. Não é fácil, desapegar exige mais de autocontrole e esforço do que jamais pensei. Mas a experiência está valendo, comecei com o cabelo e a sensação que deu foi bem boa.

domingo, 16 de outubro de 2016

TPM feat. Ansiedade

Quanto tempo leva pra alguém se tornar um completo estranho?

Eu nem sei mais quanto tempo faz desde a última vez que nos vimos e não sei se foi um encontro desconfortável e cheio de sorrisos amarelo. Quantos dias fazem desde que a gente gargalhou junto por causa daqueles mashups de músicas com sons de animais. Ou quando foi que seu abraço me pareceu um lugar seguro, não lembro mais quando foi a última vez.

Lembro da última mensagem e de como foi estranho de escrever e como eu estava desesperada porque as coisas começavam a se acumular dentro de mim, era um daqueles momentos em que eu perco o rumo e a respiração trava. Era quase uma crise de pânico e você foi a primeira pessoa em que pensei. Peço desculpas por isso.

Também quis te mandar mensagem ontem e te contar das cagadas da minha vida, mas seria pra quê? Pra ouvir alguém dizendo que eu fiz errado mais uma vez, que no fundo a culpa é minha mesmo, que eu não sei me comportar e muito menos beber. Não te mandei mensagem pra te contar como estava a vida e nem vou mandar, sabe?

Agora, nesse exato instante tudo que não preciso é de alguém me criticando, me dizendo das cagadas que eu fiz e de como a culpa é sempre minha no final das contas. Agora, nesse instante, tudo que eu queria era um afago, alguém que me pegasse no colo e passasse a mão na minha cabeça, calma, vai ficar tudo bem. Alguém pra dizer que não preciso me preocupar, que no fim tudo da certo e que se ainda não deu ainda vai dar.

Dias como hoje dão sempre a sensação de que alguma coisa vai me sufocar e eu não vou conseguir aguentar. Que o mundo todo está em cima de mim e tá me empurrando pra baixo. É a sensação de estar em uma câmara de compressão hidráulica e ir ficando cada vez mais fechada dentro das paredes. A impressão de ter uma bexiga na garganta e não conseguir puxar o ar, de ter um peso no peito e não poder respirar, cordas nos braços e pernas e também não conseguir andar. 

É um vazio constante dentro de mim que não sei como preencher.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Crônica de mudança

Andar hoje pelo bairro onde eu cresci é uma experiencia entranha. Antes eu conhecia todo mundo, o Zé do Pito, que criava periquitos, a dona Josefa, que dava aula de espanhol, a Irene que fazia as melhores balas de coco. Conhecia todos os cachorros pelo nome e não era perigoso colocar a mão dentro das grades pra fazer carinho, menos no Thor, aquele vermelho lá da esquina, esse sempre deu medo na molecada. Agora não conheço mais ninguém, o bairro cresceu, tem vários prédios em volta, mais prédios do que casa, tantos que parecem até uma cerquinha ao redor da gente. Os cachorros de antes devem ter todos morrido, ou se mudaram daqui, os que vem latir no portão, irritados com os passos que invadem seus territórios, são todos tão assustadores como Thor foi uma época.

Fazia anos que não cruzava a praça a pé, agora tão vazia e bem cuidada, não tem mais ninguém pra correr amassando a grama e quebrando os galhos das plantas, ninguém mais desce o morro no papelão. Será que todas as crianças cresceram? E aqueles que era pequenininhos quando eu fui? Será que já faz tanto tempo e até eles já são grandes demais pra brincar na praça?

As casas estão diferentes também, tudo agora são sobrados e os muros estão tão mais altos, nem vejo mais os jardins que as vovós cuidavam com tanto afinco. Ah sim, esse sempre foi um bairro de vovós e toda terça elas iam juntas pra ginastica e no domingo iam juntas para a igreja. Não vejo mais as vovós, mas também não acordo mais tão cedo quanto antes.

O bosque está lá ainda, mas as amoreiras estão tão mais altas que já não alcanço as amoras vermelhas e pretas que me faziam tão feliz em 2003. Era tanta amora que uma vez a vó fez geleia, mas nada era tão bom quanto pegar da árvore e comer e sujar a cara e a boca de tanta doçura. 

Voltar pra cá é estranho porque não pareço mais pertencer à esse lugar. Primeiro decidi ir morar longe, fazer a faculdade onde a mãe não pudesse vigiar e depois sempre que voltava troquei meus passos pelo barulho do motor e a chave do carro passou a ser indispensável nas minhas mãos. Talvez não tenha sido só o lugar que mudou tanto assim.