domingo, 30 de outubro de 2016

de.sa.pe.go

Quem me ouve falando sobre cabelo curto não imagina a vitória que foi cortar o meu. Quem me ouvia aconselhando amigas: "corta, você não vai se arrepender", "vai ser maravilhoso", "é uma libertação incrível", não imagina as prisões que criei dentro de mim.

Eu gosto dele do jeito que ele está agora, na altura dos meus ombros, talvez mais curto. Gosto porque dizem que tem personalidade, que combina comigo, que ta fofinho igual eu. Gosto porque é prático, que seca rápido, pra lavar são dois palitos e ainda economizo no shampoo.

Mas a decisão levou pelo menos alguns meses de reflexão, de pesquisa e de será que eu quero fazer isso mesmo? Fiquei muito tempo olhando pro espelho e passando os dedos pelo meu cabelo, prendendo, soltando, analisando cada curva que fazia. Era difícil imaginá-lo curto depois de tanto tempo, parecia que cortando eu perderia uma parte de mim.

Mas se parar para pensar de maneira mais racional eu realmente perdi uma parte de mim. Em cada pedaço de cabelo cortado tinha uma partizinha do meu DNA, que é a essência biológica de tudo o que eu sou. Ao mesmo tempo em que cada parte também era uma realidade minha, uma história que passou e que estava em mim. Quando cortei, tudo se foi.

Levei muito tempo pra decidir se queria mesmo me livrar de tudo isso, se queria cortar fora tantas coisas que servem de metáfora para cortar o cabelo. Gosto de pensar que aplico todas essas metáforas na minha decisão de cortar o que foi alguns anos de cuidado e dedicação com o cabelinho.

Cortar é sempre um ato de desapego e acho que é isso que tenho tentando colocar dentro de mim, um desapego de tudo que me cerca em uma tentativa de me bastar em mim mesma. Não é fácil, desapegar exige mais de autocontrole e esforço do que jamais pensei. Mas a experiência está valendo, comecei com o cabelo e a sensação que deu foi bem boa.

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