terça-feira, 31 de maio de 2016

Reencontro - essa sou eu voltando a escrever histórinhas

Não era para termos nos encontrado. ela não queria me ver. Eu não queria vê-la, mesmo que sentisse muito a sua falta. Malditos sejam os amigos em comum que disseram para mim que ela não viria, disseram pra ela que eu não veria. E agora estamos aqui nessa situação estranha.

O fim, o nosso fim, não foi dramático e nem barulhento. Nem foi um grande fim, só decidimos que não dava mais, que precisávamos de um tempo, mas você sabe o que dizem sobre tempos, é só uma forma de amenizar o corte. Não nos falávamos fazia mais de um mês, não era algo difícil, morávamos longe, trabalhávamos longe, só os amigos que eram iguais, mas ainda tínhamos nossas panelinhas.

Fiquei em choque quando a vi e ela não fez questão de disfarçar o espanto ao me ver e me cumprimentar. Estava tão linda, cortou o cabelo, gostava muito dele comprido, mas curto parecia combinar muito mais com ela. Me arrependi um pouco da bermuda e do chinelo, poderia ter caprichado um pouco mais.

Não nos falamos a noite toda, evitávamos mutuamente apesar de todas as insistências vinda dos outros, "vocês são adultos", "ainda dá pra ser amigos", "vocês vão ficar pra sempre sem conversar?", nós vamos conversar, só não sabia se era esse mesmo o momento.

Agora ela está sentada no alto da escada, sozinha com um copo em uma mão e o celular na outra. E eu estou bebendo cerveja e tomando coragem pra subir e falar com ela. Com o pé no primeiro degrau espero algum sinal de encorajamento, ela só me sorri complacente. Sinto olhares nas minhas costas quando começo a subir.

- Não achei que estaria aqui, se soubesse não teria vindo. - o que não é mentira, eu realmente teria ficado em casa se soubesse.

- Tudo bem, não sabia de você também.

- Mas e ai? Gostei do cabelo novo.

- Obrigada. Foi uma comemoração. Fui promovida e cortei o cabelo pra celebrar a mudança.

- Parabéns! Eu sabia que ia conseguir. - e sabia mesmo, ela já falava sobre isso quando a gente namorava, nunca duvidei que conseguiria. Se ela quiser conquista o mundo e nem percebe.

- Obrigada.

Ficamos no silêncio. Ela olha pros pés procurando uma saída pro climão que ficou. Será que falar de tempo é ruim? O cheiro dela está todo ao meu redor, sinto falta desse cheiro nos meus lençóis, nas roupas, misturado ao cheiro de café pela manhã.

- Sinto sua falta.

-Sinto sua falta.

Dizemos ao mesmo tempo e ficamos nos encarando na esperança de que alguma mágica resolva nossa vida.

- Pensei em te ligar, mas você sabe... - ela ainda encara os pés, quem sabe tem escondido dentro do tênis um gnomo que vai salvar dessa situação.

- Eu também pensei, mas não quis atrapalhar.

- Você não atrapalha. - Mais uma vez aquele sorriso complacente que não sei se é apenas gentileza ou se tem algo escondido naquela boca.

Olho minhas mãos vazias e não tenho nada pra falar. Queria abraça-la, dizer que sinto saudade, que quero voltar a viver na vida dela, acordar com ela em mim e de discutir pra ver o filme. Mas ao mesmo tempo que não queria nada disso, gostava do meu café sem açúcar, da minha cama inteira vazia, de chegar em casa e encontrar apenas o silêncio...

- Eu to bem assim - ela me disse sem que eu perguntasse e sorriu como antes, gentil como é da sua natureza.

- Eu também.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Venha logo, ok?


Hoje eu queria que você viesse logo, que levasse tudo o que ficou pra trás e já não tem mais como deixar por aqui. Queria que viesse ver como está tudo depois que você se foi. Não vou mentir que mudou bastante, talvez esteja com mais espaço de sobra e as cores ficaram um pouco mais escuras. Nada que não seja difícil de arrumar, mas você sabe, as cores escuras sempre foram do meu agrado.
 
Queria que viesse logo, que tirasse o que te pertence. Inclusive aquelas partes que você esqueceu em mim, lembra? Aquelas noite sem sono em que ficávamos nos escuro conversando e você me dizendo que tinha aula logo cedo e eu não sendo capaz de parar de rir, você dizia que era uma risada tão gostosa. Leve essas partes também, ok?

Não se esqueça das noites em claro em que observei você dormir e tudo o que eu era capaz de pensar era no que eu estava fazendo e como queria sair correndo pela porta deixando apenas um bilhete, "foi bom, desculpa por tudo". Claro que nunca fui embora, como você deve ter percebido. Em vez disso me enrolava nos seus braços e me forçava um abraço, "me ama mais um pouco só pra eu ter certeza que não devo partir". Claro que o próximo movimento era você me apertar mais perto do peito e beijar o topo da minha cabeça. Leve esses momentos, todos eles, desses não quero guardar recordação.

Mas deixe os dias de sol no parque, aquele com o pique nique cheio de formigas e também aquele em que rodamos a cidade pra achar uma coxinha. Deixe os dias de preguiça na cama, os dias de muita chuva e nossa maratona de série. Deixe a pipoca pós sexo e também aqueles dias em que eu tinha vergonha de sair do seu quarto quando todos da casa estavam acordados. 

Queria que viesse logo pra levar tudo embora, pra gente dividir as lembranças e não ter mais motivo pra se encontrar

segunda-feira, 16 de maio de 2016

ela segurou a mão dele com força
"você está louca?" ele perguntou observando com atenção o olhar aflito dela.
ela mordeu o lábio inferior e procurou respostas nos pés, ergueu pra ele olhos assustados "talvez", ela disse e ele não expressou resposta, "isso é ruim?" a voz suave com medo de ser rejeitada.
"por mim tudo bem" - ele sorriu e apertou a mão dela como um sinal, continue.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

quem mandou ter a lua em signo de água

hoje tomei um remédio para dormir. é a primeira vez que faço isso e não é o momento que antecede uma viagem de 6 horas dentro de um ônibus que para em todas as cidades daqui até Jundiaí. não me orgulho de ter tomado. na verdade me dá até um pouco de vergonha. significa que não consigo lidar comigo mesma e preciso desse artificio, desse mecanismo sintético que faz meus olhos pesarem e a cabeça desligar.

fique tranquilo, não é culpa sua. estou só te contanto porque já estou habituada a te contar minha vida, meus dramas, as falhas e os amores. são só mais alguns hábitos. hábitos são mais difíceis de largar do que drogas, você sabe, é o que todos dizem. não é culpa sua, você sabe. minha cabeça nunca foi muito normal, são várias minhocas aqui dentro criando expectativas e palavras que não sei de onde saíram. talvez tudo aqui dentro funcione rápido demais, não consigo controlar. você sabe, tenho mania de controle, mesmo que quando a decisão é minha eu prefira não decidir.

minha cabeça está mais agitada que o normal. não sei se te contei, mas me mudo hoje. lembra quando te falei disso? que talvez eu mudasse, que talvez eu deixasse esse lugar e fosse pra outras áreas. não sei se é a melhor decisão que já tomei. mas você sabe, as vezes gosto de jogar no escuro e torcer pra dar certo. sempre fui meio assim, vamos ver o que o próximo passo me traz. talvez seja uma queda ou mais um degrauzinho na escada. torça para que eu não tropece.