quarta-feira, 13 de julho de 2016

Na velocidade da vida, eu passo por cima

Cheguei a conclusão de que estou sempre me atropelando. Sempre mesmo. É a velha mania de tentar passar por cima de tudo. Eu atropelei aquele momento de deixar a água escorrer, de deixar o coração pesar e a alma sofrer. Pulei toda a parte humana da coisa, toda a parte que torna tudo tão triste e bonito. Quis chegar logo no final, quando vou olhar pra trás e rir, aquela em que posso te esbarrar na festa e não terei vontade de sair correndo e vomitar.

Nunca me dei muito tempo pra pensar antes de fazer as coisas. Teimosa, já dizia a minha mãe. Arrogante também, dizia meu pai. Grande demais pra sentir alguma coisa, esperta demais pra tomar decisões erradas. Não me dou alguns direitos que deveriam ser importantes. Não me permito sentar e parar pra respirar. Não me deixo sentir o que há dentro de mim. Não me permito só olhar pro mar e molhar meus pés.

Não me deixo sentir e guardo algumas magoas no peito e alguns sentimentos eu engulo com gelo e limão. Vou enfiando tudo goela a baixo pra ver se para de fazer doer e começa a valer a pena. Nunca vale. Eu não me deixo sentir e o que sobra é banal demais causar alguma coisa. É muito álcool e nicotina entorpecendo meus músculos pra que algo consiga causar mais do que cócegas. Mas aquilo que engoli continua aqui, borbulhando como um caldeirão bem quente ou como um vulcão prestes a explodir. 

Se eu parar, por alguns minutos que seja, esse caldeirão todo transborda e me promete liberdade, mas sempre me avisa do preço, das noites eternas e da certeza de não conseguir enxergar por uns dias. Me avisa da dor de estômago, da ânsia e do peso que me acompanhará por dias. Mas eu sempre acabo preferindo me atropelar e peço mais gelo que assim é mais fácil de esquecer que ta queimando.





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